Calor extremo ameaça gestantes em Teresina: Estudo revela impactos alarmantes

Pesquisa expõe vulnerabilidade de grávidas às altas temperaturas e revela despreparo do sistema de saúde para enfrentar a crise

A Agenda Teresina 2030, vinculada à Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação, divulgou os resultados da pesquisa inédita “Avaliação do impacto do calor extremo na saúde de mulheres grávidas em Teresina”, realizada em parceria com o Fundo de Populações da Organização das Nações Unidas. Entre os dados mais expressivos, a pesquisa aferiu que 89% das mulheres afirmam que o calor afeta seu bem-estar de forma negativa, sendo que 66% sente desconforto frequente por conta do calor e 44% disse que enfrenta uma intensidade extremamente alta de calor.

“Temos dados significativos que nos indicam a necessidade de formatação de políticas públicas para o atendimento dessas mulheres. Em sua maioria, são mulheres pretas e pardas, que permanecem em casa o dia todo e se locomovem a pé pela cidade. Nesse trabalho pudemos compreender a necessidade de mudanças estruturais nos serviços de saúde, mudanças de comportamento e, especialmente, a necessidade de nos unirmos nesse trabalho”, afirmou Leonardo Madeira, coordenador da Agenda Teresina 2030

Ao todo, 89% das entrevistadas declara que o calor impacta sua saúde física, com 82,24% afirmando que tem piorado os sintomas de cansaço ou fadiga e para 50,61% aumentou a dificuldade de respirar. Elas relataram ainda que percebem que o calor afeta seus bebês: entre as que notaram o bebê mais agitado, apresentaram como sintomas físicos o cansaço (92%) e dificuldade de respirar (63%). E, de forma espontânea, elas manifestaram os sintomas relacionados ao calor que as levaram a procurar o médico: assaduras no corpo, falta de ar, dermatite, coceira, mal-estar, dor de cabeça, insônia, confusão mental, enxaqueca, pressão baixa, sangramento no nariz e piora na ansiedade.

Ainda sobre sintomas físicos, 37% das entrevistadas apresentaram algum tipo de infecção no trato uroginegológico durante a gravidez e 75% acreditam que os sintomas foram agravados pelo calor.

Quando perguntadas se estavam seguindo alguma orientação médica específica para lidar com o calor, 63% respondeu que não havia recebido orientações do profissional de saúde, 25% não buscou orientações e 12% afirmou que estava seguindo as orientações. Porém, ao responderem sobre quais seriam essas orientações passadas, 90% afirmou que seria beber água e 15% tomar mais banhos. No total, 68% avaliam que bebem pelo menos 2,5 litros de água diariamente. Além disso, 91% das mulheres nunca conversaram com um profissional de saúde sobre o impacto do calor na gestação.

O questionário também avaliou o impacto emocional do calor nas gestantes. Do total de entrevistadas, 61% afirmou que sente de forma significativa esse impacto.

Para Elisa Carvalho, líder da pesquisa,os dados apontam que as mulheres sentem falta de informação, de um cuidado mais específico por parte dos profissionais de saúde e orientação.

“Fomos muito felizes em aplicar um questionário que permitiu que essas mulheres pudessem manifestar o que estavam sentindo e passando no seu cotidiano e o que percebemos com isso é que elas precisam é de informação, de orientações mais direcionadas às formas de mitigar o calor extremo, de se sentirem mais confortáveis em casa e minimizar os sintomas”, explicou.

Perfil geral

- 84% das mulheres são pardas e pretas, com média de idade de 27 anos, 60% se locomovem a pé para as consultas e 53% se locomovem a pé no dia a dia.

- Entre as que estão no grupo de 15% que declararam ter problema de saúde antes da gravidez, 34% apontaram a hipertensão, 18% o diabetes e 18% a anemia.

Para amenizar o calor

- Sobre as medidas que adotam contra o calor extremo, 81% delas disseram que buscam um local fresco, 20% ficam no quarto com ar-condicionado e 20% ficam no quintal ou áreas cobertas da casa. Por outro lado, 70% afirmam que não frequentam parques ou praças, sendo que 34% afirmam que não gostam desses ambientes, 20% não tem acesso e 18% não se sentem seguras em parques e praças.

- 79% usam roupas específicas para lidar com o calor, como vestidos e shorts. 69% não consideram suas residências adaptadas ao calor extremo.

Falta informação

Do total de entrevistadas, 84% sentem que não tem acesso adequado a informações e recursos sobre como gerenciar o calor durante a gravidez e 15% disseram que tem acesso. Destas, 59% se informam pelas redes sociais e internet e 30% nas UBSs.

Calor e preocupação

As gestantes relataram de forma espontânea também a preocupações sobre o impacto do calor na sua saúde: piorar a falta de ar e evoluir para algo mais grave, gatilho de ansiedade, insolação, ter um AVC, medo de eclâmpsia, passar mal, desmaio, medo do parto prematuro, infarto, tontura, agravar o emocional, pensamentos agoniantes, medo da depressão subir muito e colocar a vida dela e do filho em risco.

Caráter inédito

Teresina é uma das poucas cidades do planeta a pesquisar cientificamente, com equipes em campo, como o calor extremo tem afetado sua população de mulheres gestantes. Ao propor o tema “O impacto do calor extremo e altas temperaturas no desenvolvimento da gravidez em mulheres de Teresina” no desafio “Climate Change XX: Women’s Health in Focus” do Fundo de Populações das Nações Unidas, a Agenda Teresina 2030 foi uma das seis selecionadas no mundo e premiada com recurso que financiou a realização desta pesquisa.

Cerca de 84% das grávidas sentem que não tem acesso adequado a informações / FOTO: CNN