Na vastidão de um espaço etéreo, onde a luz se misturava à sombra em uma dança infinita, Raul abriu os olhos. Não havia peso em seu corpo, nem dor, apenas uma sensação de leveza que ele nunca experimentara em vida. À sua frente, uma figura indistinta, envolta em um brilho suave, aguardava pacientemente.
"Bem-vindo," a figura disse, sua voz ecoando como uma melodia distante. "Você está no limiar entre o que foi e o que será."
Raul, ainda atordoado, tentou lembrar o que havia acontecido. Um acidente, um momento de descuido na estrada, e então... nada. Apenas o vazio seguido por este novo despertar. "Estou morto?", perguntou, sua voz carregando tanto curiosidade quanto temor.
"Mortos são apenas aqueles que são esquecidos. Você, Raul, está aqui para revisitar seus momentos, para entender o que construiu sua existência."
Com um gesto suave, o guia abriu uma janela no ar, revelando cenas do passado de Raul. Ele viu a infância em uma cidade pequena, os risos compartilhados com seus irmãos, as tardes passadas correndo pelos campos. Cada memória era um fio que tecia a tapeçaria de sua vida.
"Você pode escolher revisitar qualquer memória," disse o guia. "Cada escolha te levará a um entendimento mais profundo."
Raul hesitou, mas então apontou para um momento específico – sua formatura na universidade. Ele lembrou-se do orgulho que sentiu ao ver seus pais na plateia. Ao piscar, estava novamente naquele auditório, sentindo a emoção como se fosse a primeira vez. Porém, desta vez, ele também percebeu as pequenas coisas que antes haviam passado despercebidas: a ansiedade de sua mãe, as mãos trêmulas de seu pai segurando a câmera.
Com cada memória revisitada, Raul começou a entender melhor as nuances de seus relacionamentos. Reviveu o amor, a perda, as decisões que o moldaram. Viu a si mesmo não apenas como o protagonista de sua vida, mas como uma peça no quebra-cabeça das vidas daqueles ao seu redor.
"Você pode seguir em frente," o guia disse finalmente, "ou continuar a explorar."
Raul contemplou o convite de seguir adiante, mas a riqueza das memórias o atraía. "E se eu pudesse mudar algo?", perguntou.
"Você não pode alterar o passado," respondeu o guia, "mas pode aprender com ele."
Com um aceno de aceitação, Raul decidiu continuar explorando. Cada memória era uma lição, cada erro uma oportunidade de compreensão. Ele percebeu que a vida, mesmo em sua finitude, era um ciclo de crescimento e aprendizado.
Neste reino entre mundos, Raul encontrou paz. Não era o fim, mas um novo começo, onde o eco de suas escolhas ressoava eternamente, guiando-o para o que viria a seguir.