Uma leve redução no número de pessoas em situação de rua no Piauí contrasta com um cenário alarmante de violência e vulnerabilidade. Nos primeiros três meses de 2025, o estado registrou uma queda de apenas 0,66% nessa população, passando de 1.674 em janeiro para 1.663 em março, segundo dados oficiais.
Teresina concentra a maior parte desse contingente, com 1.219 pessoas dormindo nas calçadas e praças da capital piauiense. O número, aparentemente frio, esconde uma realidade brutal: entre 2020 e 2024, foram registradas 149 denúncias de violência contra essa população através do Disque 100, canal federal para violações de direitos humanos.
As agressões, tanto físicas quanto psicológicas, ocorrem não apenas nas vias públicas, mas também em locais que deveriam oferecer proteção.
EXPLOSÃO NACIONAL: BRASIL TEM 14 VEZES MAIS PESSOAS NAS RUAS EM UMA DÉCADA
O cenário nacional é ainda mais devastador. Mais de 335 mil brasileiros viviam nas ruas em março de 2025, representando um crescimento assustador de 14,6 vezes em comparação com dezembro de 2013, quando havia 22,9 mil registros.
O perfil dessa população revela uma face cruel da desigualdade brasileira: 88% têm entre 18 e 59 anos, 84% são homens, possuem baixa escolaridade e sobrevivem com menos de R$ 110 mensais – valor que não chega a 8% do salário mínimo atual de R$ 1.518.
A região Sudeste concentra 63% dessa população (208.791 pessoas), enquanto o Nordeste abriga 14% (48.374 indivíduos).
MAPA DA VIOLÊNCIA: 46 MIL CASOS DE AGRESSÃO EM TODO O PAÍS
O terror nas ruas se materializa em números: 46.865 casos de violência contra pessoas em situação de rua foram denunciados em todo o Brasil. Metade dessas ocorrências concentra-se nas capitais, com São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte liderando o ranking macabro.
Piauí figura entre os 12 estados que registraram aumento dessa população nas capitais, ao lado de Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pernambuco e Pará. Outros nove estados conseguiram reduzir seus números, enquanto seis mantiveram-se estáveis.
CAPITAIS EM CRISE: ONDE A SITUAÇÃO É MAIS GRAVE
O drama urbano atinge proporções alarmantes nas grandes metrópoles. São Paulo lidera com 96.220 pessoas vivendo nas ruas, seguida pelo Rio de Janeiro (21.764), Belo Horizonte (14.454), Fortaleza (10.045), Salvador (10.025) e Brasília (8.591).
A pesquisa revela uma conexão direta entre a situação de rua e a negação de direitos fundamentais. Mais da metade dessa população não concluiu o ensino fundamental ou é analfabeta, criando um ciclo vicioso de exclusão e vulnerabilidade.
RESPOSTAS INSUFICIENTES DIANTE DO CRESCIMENTO
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social afirma estar retomando investimentos em capacitação e fortalecendo a rede de acolhimento. Centros especializados como os Centros POP e os Creas oferecem serviços básicos, incluindo refeições, higiene, documentação e apoio psicossocial.
Contudo, especialistas consideram as medidas atuais insuficientes frente à dimensão do problema. Segundo o OBPopRua, "o descumprimento da Constituição Federal de 1988 com as pessoas em situação de rua continua no Brasil, com pouquíssimos avanços na garantia de direitos dessa população."
Enquanto os números oscilam timidamente no Piauí, a realidade nas ruas permanece brutal, exigindo respostas mais efetivas e humanizadas para um dos problemas sociais mais complexos do Brasil contemporâneo.
Violência amentou contra a população de rua / FOTO: Sistema O Dia