Sílvio Mendes defende nova auditoria para resolver impasse no Hospital São Marcos

A FMS denuncia que usuários do SUS têm recebido comunicados não assinados anunciando a suspensão dos tratamentos

A crise de saúde em Teresina atingiu um novo patamar de tensão nesta semana. O embate entre a Fundação Municipal de Saúde (FMS) e o Hospital São Marcos (HSM) provocou a suspensão do tratamento de centenas de pacientes oncológicos, escancarando disputas financeiras e deixando vidas em risco. Agora, uma auditora inédita está prevista com a presença de autoridades nacionais e estaduais, diante da ameaça real de colapso no atendimento público.

“Deve ser feita outra auditoria com a presença do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional do Câncer, da Secretaria de Estado da Saúde e da Fundação Municipal, que é a gestora do SUS, porque temos que esclarecer isso”, disse Sílvio Mendes.

O prefeito Silvio Mendes (União Brasil) classificou a administração da cidade como “quebrada” e anunciou a paralisação de qualquer novo repasse à unidade até que as contas dos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) sejam reexaminadas. A alegação: o Hospital São Marcos teria embolsado R$ 30 milhões irregularmente ao descumprir obrigações financeiras de um empréstimo junto a uma instituição bancária—um rombo que, segundo a Prefeitura, impacta diretamente as contas públicas.

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Sílvio Mendes defende rigor máximo na apuração dos fatos, sugerindo reunião ampliada com Ministério da Saúde, Instituto Nacional do Câncer (INCA), Secretaria de Estado da Saúde e a própria FMS, responsável pelo SUS em Teresina. O objetivo é clareza total sobre o destino dos recursos federais destinados a terapias oncológicas.

Enquanto isso, cresce o desespero no São Marcos. A Fundação Municipal de Saúde denuncia que usuários do SUS têm recebido comunicados não assinados anunciando a suspensão dos tratamentos. Em resposta, o presidente da fundação, Charles Silveira, acionou a Justiça por meio de uma ação civil pública, exigindo investigações imediatas sobre a interrupção do atendimento - motivo que, segundo a Prefeitura, não pode ser justificado enquanto o hospital questionado segue devendo valores milionários ao município.

O clima de indignação ganhou corpo com novas revelações da FMS, que rechaçou as acusações de atraso em repasses. Para reforçar sua versão, técnicos do Ministério da Saúde agendaram uma visita à capital, prometendo uma análise detalhada das transferências realizadas e do cumprimento das obrigações com o hospital.

No meio do confronto, a FMS reforça que é a única gestora plena do SUS em Teresina e rechaça qualquer insinuação de negligência. Para a fundação, a legislação obriga o atendimento ininterrupto aos pacientes do sistema público, tornando inaceitável a suspensão dos serviços.

Do outro lado da crise, o Hospital São Marcos veio a público para informar que está há 19 meses sem receber valores contratuais da prefeitura, resultando em cortes críticos nos tratamentos oncológicos por absoluta falta de remédios. A unidade estima que mais de mil pessoas estão com suas terapias atrasadas. Só nos primeiros quatro meses de 2025, a instituição registrou mais de 18 mil consultas em oncologia, ultrapassou 11 mil sessões de quimioterapia, realizou 850 cirurgias de alta complexidade e totalizou 700 internações de pacientes oncológicos.

Apesar do volume de atendimentos, o hospital alega que só recebeu R$ 19 milhões líquidos, verba repassada diretamente pelo Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi), verba considerada insuficiente para manter equipes, garantir insumos e pagar medicamentos vitais.

O diretor técnico do São Marcos, Dr. Marcelo Martins, atribui o cenário emergencial à escassez de recursos e afastou qualquer motivação política no escândalo. Para ele, a situação representa uma grave ameaça à saúde da população. 

“Não se trata de uma disputa política. É uma questão de sobrevivência dos próprios pacientes. O Hospital São Marcos permanece à disposição, mas salienta a urgência de um acordo transparente e responsável com a administração municipal”, destaca Dr. Marcelo Martins.

Enquanto a cidade acompanha a disputa que coloca vidas em jogo, especialistas e órgãos públicos se mobilizam para destravar um impasse que ameaça todo o sistema de saúde da capital.

Prefeito defende nova auditoria / FOTO: Jaílson Soares