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Quem mandou matar Marielle Franco?

Assim, partindo dos princípios da legalidade e da moralidade, compactuar com a impunidade criminal é uma forma ilegal e mercenária para sabotar o Estado Democrático de Direito

19 de março de 2019, às 13:00 | Arnaldo Eugênio

Depois de passado quase um ano dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (filiada ao PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes, no Rio de Janeiro – o crime completa um ano em 14/03 –, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), o Ministério Público, a Polícia Civil em parceria com a Polícia Federal, em 1ª fase, prenderam dois suspeitos de terem cometido o crime. Por um lado, resgata a credibilidade na polícia e, por outro, joga luzes sobre o as estruturas do crime organizado.

Juridicamente, o desenrolar das investigações sobre os assassinatos nos remetem a uma infinidade de situações passíveis de análises – p.ex. o tipo de arma, os perfis das vítimas, a motivação do crime, a quantidade de disparos, os nichos criminosos, as provas técnicas, os perfis psicossociais dos acusados, o lugar do crime, etc. Mas, a questão fundamental para debelar o sentimento de impunidade no país (e do mundo, sobre a criminalidade no Brasil) é identificar o(s) mandante(s) do crime: ou seja, quem mandou matar Marielle?  

Sociologicamente, a impunidade criminal no Brasil – aqui, entende-se que para prevenir o crime não é endurecer a lei, mas efetivar a punição (BECCARIA, 1746) – é uma fonte de estímulo entre aqueles que operam nos interstícios dos nichos criminosos, da polícia, da política e da criminalidade, estabelecendo uma rede de relações promíscuas e escusas entre o crime organizado e o Estado, para impor vontades, controles, desejos e acumular, ilimitadamente, poderes, prestígios e privilégios a despeito da dor alheia.

Assim, partindo dos princípios da legalidade e da moralidade, compactuar com a impunidade criminal é uma forma ilegal e mercenária para sabotar o Estado Democrático de Direito e propiciar o enriquecimento ilícito de contraventores e seus asseclas nos três Poderes da República.

Segundo a polícia, a ação meticulosa que culminou com os assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes foi planejada três meses antes do crime pelo policial militar reformado (ex-filiado do MDB) Ronnie Lessa (o atirador) – um exímio atirador formado pelo Estado –, com o auxílio do ex-PM (ex-filiado do DEM) Élcio Vieira de Queiroz (o motorista), que foi expulso da Polícia Militar por fazer segurança ilegal a contraventores numa casa de jogos de azar.

Criminologicamente, a análise telemática demonstra a periculosidade e o nível de crueldade do atirador. O seu modus operandi inclui uma metódica preparação pré-crime encomendado, através do monitoramento detalhado do cotidiano e do comportamento da vítima. Além de ter uma "obsessão" por militantes de esquerda (e já recebeu uma menção honrosa na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Estrategicamente, o recrutamento do ex-PM Élcio Vieira de Queiroz se justifica pelo seu histórico criminal. Em 2011, o mesmo fora alvo da “Operação Guilhotina”, deflagrada pela Polícia Federal, que investigou um esquema de corrupção policial que incluía a venda de informações sobre operações e de espólio de guerra do tráfico, além da prestação de serviço ilegal de vigilância.

Se não se trata de uma teoria da conspiração e podemos ir para além da cinematografia nacional (“Tropa de Elite 1” e “Tropa de Elite 2”), os assassinatos suscitam muitas perguntas – p.ex. politicamente, quem odeia o Estado Democrático de Direito? Quem dirige o escritório do crime organizado? Quem teme a investigação das milícias? Quem se sentia ameaçado pela ascensão política de Marielle? Porém, a pergunta-chave (ou “Tropa de Elite 3”) é, enfim, saber: Quem mandou matar Marielle?

Marielle Franco / Foto: Mídia Ninja


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