As controvérsias da corrupção no Brasil
Quantos são aqueles que nada ou pouco possuíam e, de repente, desfilam a esbanjar desavergonhadamente o título de endinheirados e empresários
Um dos temas mais recorrentes hoje na sociedade brasileira, dentre tantos que afligem diretamente os cidadãos comuns, é a falta de segurança, e naturalmente a corrupção. Quem sabe um esteja diretamente ligado ao outro, como saúde, educação e tudo o mais nesse país onde a arte da política se transformou na mais valia do enriquecimento ilícito e descarado. Quantos são aqueles que nada ou pouco possuíam e, de uma hora para outra, desfilam aos olhos de todos a esbanjar desavergonhadamente o título de endinheirados e empresários, e, em algumas situações, com o beneplácito de grupos entrincheirados na própria sociedade, muitas vezes saudados até com o júbilo e o aplauso de alguns.
Essa é realidade corriqueira aqui entre nós, ou em qualquer rincão desse imenso país, seja um grande centro urbano, ou não. E nessa doentia e serviçal complacência, não surpreende o que disse a mulher do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, justificando os crimes praticados pelo marido e exteriorizando a bajulação de uma hipócrita sociedade: “estávamos em êxtase”.
Diante do quadro de perplexidade de cada episódio criminoso de corrupção, se tem criticado bastante sobre esse momento pelo qual o Brasil vive, inclusive de forma cética, como se fosse a caçoar que esse país realmente não tem jeito, dado ao lamaçal, cada vez mais acentuado e exposto, das relações promíscuas existentes entre o que é público e privado, e a consequente deterioração da atual elite política.
Particularmente, vejo aspectos extremamente positivos em todo esse quadro em que o país está sendo passado a limpo, concordando que é preciso se reinventar a política brasileira, se recrutando novos quadros comprometidos com a ética e o desenvolvimento da Nação. Poderia evidenciar, de imediato, dois deles. O primeiro é que só as sociedades democráticas, onde a imprensa é livre, se pode chegar aonde até aqui se chegou. O outro aspecto, também ligado às democracias em estado avançado, é o amplo funcionamento das instituições, a despeito das críticas feitas por uns poucos, muitos dos quais ligados a grupos de interesse.
Não há como negar, por exemplo, contabilizando erros e acertos, o papel de relevo desempenhado pelo Ministério Público e a Polícia Federal, e o próprio Poder Judiciário, no sentido de estabelecer, e legar para gerações futuras, um país mais consentâneo com práticas éticas e democráticas, centrado em outras balizas, que não essas que visceralmente estão sendo expostas para o bem de todos e felicidade geral da nação. Ainda é possível se sonhar, com a contribuição institucional de jovens abnegados, com o ideário de uma respeitada e pujante Nação.
Ubiraci Rocha é promotor de justiça e ex-professor de Direito Penal e Processo Penal.
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