Portal Douglas Cordeiro - Como é que funciona esse esquema? Os policias davam, de uma certa forma, segurança aos traficantes e aos mesmo tempo extorquiam os traficantes e usuário?
Delegado Odilo Sena - A nossa área é uma área maravilhosa, é uma área de refúgios, sítios. E o que acontece aqui por há muito tempo, vamos falar a verdade, a polícia não trabalhou aqui, não houve um trabalho sério de polícia investigativa, um trabalho que pudesse conter possível crescimento do tráfico de drogas, de roubos, enfim. Isso simboliza, de uma certa maneira, que o tráfico aqui se tornou endêmico, nesse panorama existem os grandes traficantes, dois ou três, e o resto são boqueiros. Então esses policias ofereciam serviço para um desses traficantes, enquanto os outros eram algozes dos outros traficantes, ou seja, pela investigação ficou consignado que eles ofereciam serviço, que na gíria policial nós chamamos de quebrar boca, eles iam à boca do traficante rival, tomavam as armas, tomavam a droga, dinheiro e deixavam aquela área livre para o domínio do traficante para qual eles estavam trabalhando, conforme os laudos do inquérito policial. Agora, eles prendiam o traficante, tinham presos, desde que não sejam os traficantes para qual eles trabalham, de acordo com os depoimentos que nós temos aqui, inclusive dos próprios colegas policiais militares.
Portal Douglas Cordeiro - Como é que foi esse trabalho em José de Freitas? Teve um preso, inclusive, que parece que é pastor evangélico. Imagino que não deve ser fácil para um delegado prender um policial, alguém que trabalha na força de segurança civil, da forca de segurança do estado do Piauí.
Delegado Odilo Sena - É uma investigação muito triste né, uma investigação difícil de fazer, é constrangedora. Eu fui militar por duas ocasiões, uma vez foi na Marinha do Brasil, por outra vez na força aérea brasileira, eu conheço a caverna, eu sei como são os códigos, os princípios, os valores que nos são colocados para que um militar possa seguir sua carreira e servir a pátria, o estado, o local em que ele trabalha. Foi uma investigação difícil, porque envolve pessoa que trabalha conosco no dia-a-dia, não só apenas esses policiais, outros policiais também estão nessa mesma situação, esperamos que com essas prisões essas pessoas possam refletir a respeito de suas atitudes. Mas a nossa delegacia é pequena, afastada, até um pouco esquecida. A gente começou a investigação no começo do ano, uma investigação difícil, que os próprios colegas não querem participar, vão porque são obrigados por lei, é um "custos lexa" que a gente chama, é um ente publico, que eles têm que fazer, porque se não eles mesmos respondem, aqueles que são honestos. E assim, os desonestos colocam os honestos em uma situação difícil perante a sociedade, porque a sociedade já sabe, as pessoas já sabem do proceder desses mal policias, não só os daqui, em qualquer lugar, porque eles atuam junto a comunidade e essas pessoas acabam jogando o nome da policia, não só a civil, porque muitas vezes o povo, de maneira geral, eles não conseguem distinguir o que é polícia civil, polícia judiciária, e o que é polícia militar ou ostensiva, não consegue distinguir, a população de maneira geral entende que polícia é polícia e pronto. Só que infelizmente nós temos maus indivíduos, maus profissionais, tanto na Polícia Civil, como na Polícia Militar, como na Polícia Federal, como no Ministério Público, tem em todo lugar. Só que a polícia tá dando um show de honestidade e de honra ao trabalho, coisas que eu não vejo muito em outras instituições, infelizmente.
Fotos cedidas pelo Portal GP1.