MENU mobile

Hugo nega disputar Prefeitura de Teresina e revela “segredos” de JK

Depois de 40 anos de vida pública e filiado ao PSD, Hugo rejeita participar da disputa pela Prefeitura de Teresina

Reportagem de Wesslley Sales

“Eu fui Advogado de JK”. Este é o título do livro lançado recentemente pelo ex-Governador Hugo Napoleão, onde conta detalhes da prisão do ex-Presidente da República durante o regime miliar e como precisou usar um disfarce para encontrar Juscelino Kubitschek sob vigilância do Exército no Rio de Janeiro. 

Depois de 40 anos de vida pública e filiado ao PSD, Hugo rejeita participar da disputa pela Prefeitura de Teresina e, nesta entrevista exclusiva, diz que o Deputado Júlio César é teimoso.

Eu era menino e conheci Juscelino, que era candidato a presidência da República em 1955, em um jantar na casa do meu avô. .

PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - Lançou um livro sobre sua história como advogado de Juscelino Kubitschek. Essa sua ligação com o ex-presidente nasceu onde?

HUGO NAPOLEÃO - Vem do meu avô, Hugo Napoleão. Ele foi deputado federal a vida toda e líder do governo Juscelino Kubitschek na Câmara dos Deputados, ainda no Rio de Janeiro, no Palácio Tiradentes. Ele era colega do Juscelino desde 1934, na Câmara dos Deputados. Depois meu pai, diplomata Aloísio Napoleão de Freitas Rego, que também foi Chefe do Cerimonial da Presidência da República no curto governo do presidente Nereu Ramos, que passou a faixa para o Presidente a Juscelino Kubitschek em 31 de janeiro de 1956 e o novo presidente convidou meu pai para ficar. Eu era menino e conheci Juscelino, que era candidato a presidência da República em 1955, em um jantar na casa do meu avô. Também participou o Governo do Piauí, Gayoso de Almendra. Cresci, estudei direito, morava com meus avôs.

PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - Em que momento o Senhor foi convidado pelo Presidente Kubitschek a ser seu advogado?

HUGO NAPOLEÃO - Meu pai era embaixador do Brasil no Irã. Então, veio ao Rio de Janeiro e foi convidado pelo Presidente e a dona Sara para assistir um filme na Cinelândia. Quando saiu, meu pai disse: meu filho Hugo já se formou e está até trabalhando em um escritório de advocacia aqui no centro do Rio de Janeiro e está à sua disposição. Não deu 24 horas e o Presidente telefonou: Hugo, você pode dar um pulinho aqui no meu escritório? No AI-5 houve um processo contra ele, foi preso injustamente. Dia 13 de dezembro de 1968, dia da edição do AI-5, ele era patrono de uma turma de medicina da UFRJ, ao lado de um padrinho meu, que era o paraninfo. Eles vinham descendo as escadarias do municipal quando um Coronel do Exército apresentou-se: eu vim aqui para dizer que o alto comando da revolução pede que o senhor me acompanhe. O senhor está preso. Daí ele saiu de terno e tudo, foi levado para o Forte de São Gonçalo. Uma violência que só se vê mesmo em regime de exceção. Felizmente terminado. Acabei sendo advogado dele pessoal.

Graças a Deus estou muito bem, estou saudável, com vida intelectual intensa e cuidando da minha família. É uma vida reservada, particular e que me tem agradado. .

PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - O senhor chegou a se fantasiar na casa dele para não ser preso?

HUGO NAPOLEÃO - Ele depôs e foi libertado para ficar em prisão domiciliar. E quando foi para casa pisou em um cabide, furou um tendão e acabou operado. Ele ficou numa cama de hospital no quarto dele com a perna direita no gesso, pendurada, presa no teto por um fio de arame. Só podiam ir na casa as duas filhas e os esposos, as netinhas e um sobrinho querido chamado Carlos Murilo, além do médico. Mais ninguém entrava. Havia um General na porta e um pequeno destacamento. Então, qual era o jeito? Fui chamado na casa do Rodrigo por volta das 10h00 e lá estava um advogado, Dr Jorge Tavares. Neste momento contaram tudo. É bem verdade que dias antes eu tinha ido com o Rodrigo ao Forte São Gonçalo. Tentei me avistar com o Juscelino, mas chegou o Coronel e disse: aqui ninguém entra. Exibi minha carteira da OAB-RJ. Não adiantou. Foi então que me disseram que ele estava em casa e que eu só poderia ir se fosse como enfermeiro da Marta Maria, uma menina de meses de idade, filha da Maria Estela e do Rodrigo Lopes. Foi assim que eu entrei. 

Tudo isso aconteceu porque o Presidente tinha recebido uma notificação da Comissão Geral de Investigações, uma junta de militares que iria julgar, entre aspas, o presidente da República. Na intimação já vinham condenando, com uma assinatura ilegível, ou seja, ninguém sabia quem era. Para se ver como eram as irregularidades naquele regime. Os advogados de JK, Sobral Pinto e Evaristo de Moraes Filho, foram lá conversar com ele. Mas, tinha um Coronel do Exército sempre presente. Eles não puderam conversar direito. Então, Dona Sara perguntou a ele: e agora, Juscelino, como é que vamos fazer. Ele respondeu: chama o Hugo Napoleão. E foi assim que eu fui chamado para a casa do Rodrigo e cheguei a entrar lá. Das sete perguntas que estavam na intimação eu sabia responder cinco, mas meus conhecimentos em direito penal não eram tão profundos. Levei as duas questões que eu não tinha conhecimento para conversar com o Evaristo de Moraes Filho. No que ele me orientar retorno e me entenderei com o senhor e vamos preparar a resposta. Dona Sara disse que ligaria para mim e pediria uma injeção por estar muito nervosa. Assim combinamos. E todo paramentado, com estojo de enfermeiro, enfrentei o risco. Com essa firmeza e coragem ia visitar o Presidente Juscelino Kubitschek em sua prisão domiciliar.

PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - O livro está disponível onde?

HUGO NAPOLEÃO - Nas livrarias Anchieta e Margarida, aqui em Teresina.

PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - Falemos agora sobre política. O Senhor recebeu o convite do Deputado Júlio César para ser candidato à Prefeitura de Teresina. O Senhor tem pretensão de disputar algum cargo, agora ou no futuro?

HUGO NAPOLEÃO - Depois de três décadas no Congresso Nacional, como Deputado Federal e Senador representando meu querido Piauí, além de ser governador por duas vezes, foram 40 anos de vida pública. Graças a Deus estou muito bem, estou saudável, com vida intelectual intensa e cuidando da minha família. É uma vida reservada, particular e que me tem agradado. Acho que cumpri com meu dever. Para voltar à política só se fosse um cavalo todo selado. Mas, como isso não acontece, quero dizer que minha disposição é continuar na minha atividade. Claro, isso não quer dizer que não possa frequentar meu partido, ir a reuniões, comícios (se for convidado). Minha disposição é colaborar, dar minha participação, mas não como candidato. Júlio é cabeça dura. É um dos melhores parlamentares do Brasil, mas é teimoso. Ele disse: Vou falar com o Kassab (Presidente Nacional do PSD) para lhe chamar para conversar. Deixa ele chamar. Vamos conversar, mas para repetir o que disse aqui.

Fotos: Portal GP1

© 2024 . Portal Douglas Cordeiro - Jornalismo é contar histórias. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reeescrito ou redistribuido sem autorização.