PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - O senhor chegou a se fantasiar na casa dele para não ser preso?
HUGO NAPOLEÃO - Ele depôs e foi libertado para ficar em prisão domiciliar. E quando foi para casa pisou em um cabide, furou um tendão e acabou operado. Ele ficou numa cama de hospital no quarto dele com a perna direita no gesso, pendurada, presa no teto por um fio de arame. Só podiam ir na casa as duas filhas e os esposos, as netinhas e um sobrinho querido chamado Carlos Murilo, além do médico. Mais ninguém entrava. Havia um General na porta e um pequeno destacamento. Então, qual era o jeito? Fui chamado na casa do Rodrigo por volta das 10h00 e lá estava um advogado, Dr Jorge Tavares. Neste momento contaram tudo. É bem verdade que dias antes eu tinha ido com o Rodrigo ao Forte São Gonçalo. Tentei me avistar com o Juscelino, mas chegou o Coronel e disse: aqui ninguém entra. Exibi minha carteira da OAB-RJ. Não adiantou. Foi então que me disseram que ele estava em casa e que eu só poderia ir se fosse como enfermeiro da Marta Maria, uma menina de meses de idade, filha da Maria Estela e do Rodrigo Lopes. Foi assim que eu entrei.
Tudo isso aconteceu porque o Presidente tinha recebido uma notificação da Comissão Geral de Investigações, uma junta de militares que iria julgar, entre aspas, o presidente da República. Na intimação já vinham condenando, com uma assinatura ilegível, ou seja, ninguém sabia quem era. Para se ver como eram as irregularidades naquele regime. Os advogados de JK, Sobral Pinto e Evaristo de Moraes Filho, foram lá conversar com ele. Mas, tinha um Coronel do Exército sempre presente. Eles não puderam conversar direito. Então, Dona Sara perguntou a ele: e agora, Juscelino, como é que vamos fazer. Ele respondeu: chama o Hugo Napoleão. E foi assim que eu fui chamado para a casa do Rodrigo e cheguei a entrar lá. Das sete perguntas que estavam na intimação eu sabia responder cinco, mas meus conhecimentos em direito penal não eram tão profundos. Levei as duas questões que eu não tinha conhecimento para conversar com o Evaristo de Moraes Filho. No que ele me orientar retorno e me entenderei com o senhor e vamos preparar a resposta. Dona Sara disse que ligaria para mim e pediria uma injeção por estar muito nervosa. Assim combinamos. E todo paramentado, com estojo de enfermeiro, enfrentei o risco. Com essa firmeza e coragem ia visitar o Presidente Juscelino Kubitschek em sua prisão domiciliar.
PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - O livro está disponível onde?
HUGO NAPOLEÃO - Nas livrarias Anchieta e Margarida, aqui em Teresina.
PORTAL DOUGLAS CORDEIRO - Falemos agora sobre política. O Senhor recebeu o convite do Deputado Júlio César para ser candidato à Prefeitura de Teresina. O Senhor tem pretensão de disputar algum cargo, agora ou no futuro?
HUGO NAPOLEÃO - Depois de três décadas no Congresso Nacional, como Deputado Federal e Senador representando meu querido Piauí, além de ser governador por duas vezes, foram 40 anos de vida pública. Graças a Deus estou muito bem, estou saudável, com vida intelectual intensa e cuidando da minha família. É uma vida reservada, particular e que me tem agradado. Acho que cumpri com meu dever. Para voltar à política só se fosse um cavalo todo selado. Mas, como isso não acontece, quero dizer que minha disposição é continuar na minha atividade. Claro, isso não quer dizer que não possa frequentar meu partido, ir a reuniões, comícios (se for convidado). Minha disposição é colaborar, dar minha participação, mas não como candidato. Júlio é cabeça dura. É um dos melhores parlamentares do Brasil, mas é teimoso. Ele disse: Vou falar com o Kassab (Presidente Nacional do PSD) para lhe chamar para conversar. Deixa ele chamar. Vamos conversar, mas para repetir o que disse aqui.
Fotos: Portal GP1