DOUGLAS CORDEIRO - Ainda existe uma resistência da vítima ou da família em procurar um psicólogo?
DR. EDUARDO MOITA - Existe uma barreira que precisa ser vencida. Quando nós sofremos uma lesão no pé, jogando futebol, imediatamente procuramos um ortopedista. No caso de problemas emocionais, não buscamos ajuda de um profissional por medo ou vergonha. Aos poucos estamos mudando esta realidade e entendendo que procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra é tão comum quanto buscar o auxílio de um ortopedista. Vários estudos feitos nos Estados Unidos mostram que estas pessoas são vítimas de um abandono social. Não existia uma estrutura familiar explicando o que é respeito a vida. Isso ocorre também nas famílias com maior poder aquisitivo. Ter um tablet, um bom quarto, bens materiais, não vai ajudar. O que resolve é contato, conversa, presença na vida da pessoa. O filho faz o que quer, dorme a qualquer hora, não existem regras na família. Eu sempre oriento meus pacientes que acompanhem o que seus filhos estão vendo na internet. Os pais precisam ter acesso a este conteúdo e explicar o que é certo e o que é errado, o que ele pode e o que não pode fazer. Isso não é invasão, é orientação. Seu filho é menor de idade e você é responsável por ele. É importante não confundir uma boa condição financeira com equilíbrio emocional.
DOUGLAS CORDEIRO - Qual o papel da imprensa?
DR. EDUARDO MOITA - É importante que a imprensa não divulgue o nome de quem praticou estes atos de violência, a forma como a violência foi praticada, não mostrar imagens e não revelar a identidade das vítimas. Divulgar apenas a informação necessária porque quem comete estes atos quer mídia e quando o nome do autor é divulgado os veículos de comunicação ajudam a atingir o objetivo de quem praticou o ato violento. Por isso é preciso ter muito cuidado com as informações para não gerar novos atos violentos.