OTÁVIO RIBEIRO NETO - Qual importância da visibilidade, na mídia, de casos de violência contra a mulher?
NATHÁLIA FIGUEIREDO - A visibilidade é importante para chamar, novamente, a atenção para o combate a violência doméstica e familiar. Ela sempre existiu, mas agora está se falando sobre o assunto, legislações estão sendo criadas para proteger as mulheres.
OTÁVIO RIBEIRO NETO - É uma das características da violência contra a mulher, a vítima se sentir culpada?
NATHÁLIA FIGUEIREDO - Na entrevista da jovem chamou minha atenção a romantização do controle que não é amor, não é ciúme, é posse e da vergonha que ela sentiu por ter sido vítima. Quem deve ter vergonha dos seus atos é o agressor e não a vítima. Isso é muito comum, infelizmente. O abusador ataca de várias maneiras. Pelo relato da Victoria, além da agressão física que ela sofreu, ela vivia violência psicológica. O abusador mina a mente da vítima, diminui a autoestima, diz que ela não é capaz e mostra que só ele pode amá-la. A vítima acaba tendo vergonha de ser vítima e esta é uma das formas utilizadas pelo abusador para exercer controle.
OTÁVIO RIBEIRO NETO - Na entrevista ela cita que em nenhum momento ela o percebeu como agressor, mas como uma pessoa romântica. Como as mulheres podem ficar atentas a estes casos?
NATHÁLIA FIGUEIREDO - O ciúme é comum nos relacionamentos, mas o controle vai além do ciúme. Quando você percebe que a pessoa passou a controlar seus passos, ela relatou que ele colocou um localizador no celular, para saber exatamente onde ela estava, perseguia no trabalho, então são vários alertas. A violência doméstica não inicia com o feminicídio, o feminicídio ocorre quando não se deu importância as outras formas de violência. Existe a violência física, moral, psicológica e sexual. No relacionamento entre marido e mulher, nós pensamos que os deveres conjugais incluem a relação sexual não permitida, isso não é verdade. Qualquer relação sexual que não seja consentida é estupro. Quem tem um companheiro ou um marido que força uma relação sexual está cometendo um estupro. Estas formas de violência que a mulher não dá importância vão evoluindo à medida que a vítima não denuncia ou não termina a relação e pode acabar com o feminicídio.