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Telegram nas eleições 2022: Como o aplicativo pode influenciar na urna

Criado há menos de 10 anos, em 2020, o Telegram foi um dos 10 aplicativos mais baixados do mundo

24 de julho de 2022, às 11:00 | Editoria de Política

Você provavelmente já ouviu falar no Telegram. O aplicativo russo, criado em 2013 pelos irmãos Nikolai e Pavel Durov, tem crescido no mundo todo nos últimos anos e ganhado espaço entre figuras públicas, como os políticos. O presidente da República Jair Bolsonaro, por exemplo, utiliza o aplicativo como meio de comunicação oficial com seus seguidores. Conhecido por ser um aplicativo com poucas restrições de conteúdo e alta (e, por vezes, contraditória) liberdade de expressão, a plataforma se tornou forte aliada para movimentações políticas neste ano eleitoral. Mas como deve se comportar o Telegram nas Eleições? Acompanhe o assunto abaixo.

A ASCENÇÃO DO TELEGRAM

Criado há menos de 10 anos, em 2020, o Telegram foi um dos 10 aplicativos mais baixados do mundo. Há poucos meses, em 4 de outubro de 2021, a queda global das redes sociais de Mark Zuckerberg favoreceu um crescimento exponencial do aplicativo russo.

Pavel Durov, um dos fundadores do Telegram, disse que durante o apagão das redes – que consistiu na queda dos serviços de Facebook, Instagram e WhatsApp durante 7 horas -, o seu aplicativo ganhou cerca de 70 milhões de novos usuários em um único dia no mundo inteiro.

Também, uma pesquisa realizada pela empresa Mobile Time, em parceria com a Opinion Box, apontou que o aplicativo fazia parte de 15% dos aparelhos celulares no Brasil em 2018. Em agosto de 2021, esse número já havia saltado para 53%. Para efeito de comparação, a mesma pesquisa apontou que o WhatsApp está instalado em 99% dos smartphones. Apesar do Telegram ainda não chegar perto da gigante das mensagens, o seu crescimento tem atraído a atenção de novos usuários, e principalmente de políticos.

MOVIMENTAÇÕES POLÍTICAS NO TELEGRAM

Um dos expoentes mais notórios que exemplifica a crescente onda de movimentações políticas do Telegram foi a migração do ex-presidente americano Donald Trump para a rede.

O republicano atraiu políticos e simpatizantes da extrema direita ao migrar para o Telegram após ser barrado em outras redes sociais por estimular a invasão ao Congresso Americano, em janeiro de 2021. O ex-presidente dos EUA foi suspenso de forma permanente do Twitter por risco de incitar a violência e também foi afastado do Instagram e do Facebook por, pelo menos, dois anos.

Aqui no Brasil, uma situação parecida aconteceu com Bolsonaro ao ter classificado como fake news uma mensagem compartilhada sobre mortes causadas por doenças respiratórias, como a COVID-19.

GRUPOS POLÍTICOS DENTRO DA REDE SOCIAL

O Telegram dispõe de uma maior capacidade para comportar membros e integrantes. Enquanto os grupos do WhatsApp permitem até 256 participantes em grupos, no aplicativo russo o número de membros chega a 200 mil pessoas.

Além disso, os canais têm capacidade ilimitada de membros. O canal oficial de Jair Bolsonaro tem mais de um milhão e trezentos mil inscritos em pouco mais de um ano após a criação. Nenhum outro político brasileiro tem uma presença tão expressiva no aplicativo quanto o presidente da República.

O canal de Lula, por exemplo, tem 70 mil inscritos, enquanto o canal de Ciro Gomes tem pouco mais de 20 mil (dados referentes aos registros do próprio Telegram coletados em abril de 2022).

DISSEMINAÇÃO DE FAKE NEWS

Um dos pontos mais notórios e negativos das eleições de 2018 girou em torno das fake news. A disseminação de falsas informações e notícias e a manipulação de dados estatísticos foi decisiva para o resultado do pleito eleitoral e se tornou um dos principais males dos tempos modernos.

No Telegram, a falta de uma autorregulação contundente e combativa propicia um ambiente fértil para movimentos dedicados a esse tipo de prática. Assim, alguns mecanismos (ou a ausência deles) se tornam facilitadores para a distribuição e compartilhamento de notícias falsas.

Nesse sentido, o uso de robôs e de contas automatizadas, principalmente nos grupos e canais de maior engajamento, levam esses conteúdos a todos os integrantes e membros de forma efetiva.

Com isso, a união entre ambientes e grupos secretos que não podem ser rastreáveis, o uso de mensagens autodestrutivas – que apagam sem deixar rastros após um determinado tempo – e a ausência de criptação em todas as mensagens de ponta a ponta possibilitam a comercialização de todo tipo de ato ilícito e criminoso, desde a venda de armas, de pornografia infantil, até a compra de conteúdo direcionado envolvendo fake news.

O TELEGRAM NAS ELEIÇÕES

Diante desse cenário de forte influência de redes sociais em participar do debate eleitoral de maneira ainda mais contundente que em 2018, principalmente com o crescimento do Telegram, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem se esforçado em estabelecer medidas para frear a disseminação da desinformação durante o pleito. Em março deste ano, o aplicativo assinou com o TSE um termo de compromisso em combater fake news na plataforma.

O acordo entre a plataforma e o tribunal acontece em um contexto em que o aplicativo, após não responder, durante meses, aos convites do TSE para estabelecer medidas de segurança da informação, sofreu bloqueio no Brasil por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Após o recuo do aplicativo e o firmamento do acordo, o Telegram se junta a outras oito plataformas da internet que também assumiram compromisso com o TSE, como YouTube, TikTok WhatsApp e Facebook.

A JUVENTUDE ENGAJADA

Além das medidas tomadas pelo Tribunal Superior Eleitoral e das campanhas do Supremo Tribunal Federal em defesa da legitimidade e segurança das urnas eletrônicas, outro fator mobilizou diversas classes da sociedade, como artistas, intelectuais e figuras políticas.

Campanhas de incentivo à regularização do título de eleitor das mais variadas e de diferentes abordagens foram realizadas, principalmente por meio das redes sociais, mobilizando jovens entre 16 e 18 anos para retirar o documento, e também jovens maiores de idade que não estivessem em dia com a justiça eleitoral.

Os movimentos surtiram um impressionante efeito positivo: em 5 de maio, dia seguinte ao término do prazo de regularização do título de eleitor, o TSE divulgou que o Brasil ganhou mais de 2 milhões de novos eleitores com idades entre 16 e 18 anos, o que representou um aumento de 47% em relação a 2018, e 54% quando comparado com 2014. Tal resultado da mobilização popular fortalece campanhas a favor da democracia e da importância de cada voto durante as eleições.

Aliada às medidas de controle e responsabilidade das redes sociais, que em grande maioria são acessadas por esses mesmos jovens novos eleitores, a participação dessas pessoas será de grande importância para o fortalecimento das instituições democráticas do país.

Em 2020, o Telegram foi um dos 10 aplicativos mais baixados do mundo / FOTO: Cristiane Tiel


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