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A influência da tecnologia nas eleições: vale tudo? #NãoValeTudo

Como isso influencia suas ideias, suas atitudes, seus círculos sociais? Pouco pensamos sobre, pouco discutimos essa realidade

31 de julho de 2018, às 13:00 | Redação

Discutir tecnologia pode parecer algo que pessoas de outras gerações fazem, não é? Quem nunca ouviu seus avós comentarem sobre o uso excessivo de redes sociais e da pouca reflexão acerca dessa nova realidade? Eles não estão errados, não. Com qual frequência você fala sobre a presença da tecnologia na sua vida e na vida de quem lhe rodeia? Como isso influencia suas ideias, suas atitudes, seus círculos sociais? Pouco pensamos sobre, pouco discutimos essa realidade.

Tecnologia nas eleições: vale tudo #NãoValeTudo / Foto: Markus Spiske-Unsplash

E mais: quando adicionamos ao contexto alguma questão séria, como a escolha de nossos representantes políticos nos poderes Legislativo e Executivo, discutir tecnologia se torna ainda mais necessário. As eleições de 2018, por óbvio, serão as eleições com a maior influência das tecnologias na história e muitas pessoas não pararam para refletir quais as consequências da equação: tecnologia + relações sociais + polarização + notícias falsas + eleições = (?).

Felizmente, várias outras pessoas já pensaram, discutiram e pesquisaram a fundo as consequências dessa nova realidade. O Instituto Tecnologia & Equidade, AppCivico, Idec, Internet Lab, Instituto Update, Transparência Partidária, Transparência Internacional e Open Knowledge Brasil, criaram um movimento chamado #NãoValeTudo, que visa à conscientização e ação para com o uso ético da tecnologia nas eleições.  Vamos entender esse manifesto sobre o que é ético, ou não, no uso de tecnologias no processo eleitoral?

O QUE É O MOVIMENTO #NÃOVALETUDO?

“Não importa se você é cidadã(o), candidata(o), milita em algum partido político, faz parte de alguma startup ou gigante de tecnologia, canal de mídia, trabalha na justiça eleitoral, ministério público ou organização da sociedade civil.

Precisamos falar urgentemente sobre o uso ético de tecnologia nas eleições.”

Assim começa a carta do movimento #NãoValeTudo, uma iniciativa coletiva apartidária das organizações Instituto Tecnologia & Equidade, AppCivico, Idec, Internet Lab, Instituto Update, Transparência Partidária, Transparência Internacional e Open Knowledge Brasil. O #NãoValeTudo tem como objetivo, além de discutir questões atuais e relevantes à democracia e ao período eleitoral, também advogar em favor da adesão a princípios éticos por parte de todos os atores envolvidos nas eleições de 2018 no Brasil. Na carta do #NãoValeTudo, você pode entender em detalhes seus objetivos e, inclusive, sua proposta de uso ético da tecnologia.

A ideia é aproximar o máximo de pessoas possível da conversa sobre democracia, eleições, tecnologia, polarização, roubos de dados de usuários, liberdade de expressão. Portanto, o movimento encoraja que organizações, empresas e pessoas (inclusive políticos!) assinem e aderem à carta #NãoValeTudo. É importante salientar, porém, que a assinatura não configura qualquer tipo de apoio, recomendação ou certificação recíproca entre elas e seus proponentes. O #NãoValeTudo também incentiva que os diversos públicos interessados monitorem o cumprimento da carta por seus signatários.

VAMOS FALAR SOBRE AS ELEIÇÕES DE 2018?

Quantas pessoas já falaram para você que têm medo do resultado das eleições de 2018? Você tem medo do resultado das eleições de 2018? Por quê?

A tecnologia abriu portas para as famosas fake news / Thomas Charters-Unsplash

O período eleitoral de 2014 foi conturbado por diversos motivos – dentre eles, manifestações de intolerância, discurso de ódio e uma batalha entre “coxinhas e mortadelas”. Um ambiente hostil a qualquer pessoa, não é? A atmosfera de combate se cruza com uma arena eleitoral em que muitas pessoas sequer votam ou anulam seu voto – como demonstram os altos números de votos nulos e abstenções – e com a desconfiança do brasileiro na política.

O Brasil – assim como grande parte do mundo – vive um clima de hostilidade e polarização, que só causa mais afastamento da política e da participação democrática. Há uma série de fatores sobre os quais podemos pensar para diminuir essa incerteza e aumentar, de fato, a participação cidadã e o envolvimento dos brasileiros na política. Discutir e falar sobre alguns desses fatores que passaram a incidir nas nossas vidas, como a tecnologia, nos faz perceber o que podemos fazer. Das próprias telas dos nossos celulares, podemos criar um ambiente de maior respeito e de discussões construtivas e relevantes.

O #NãoValeTudo entra aí: na discussão sobre como a nossa democracia precisa ser fortalecida por meio de um uso ético e mais consciente da tecnologia, das redes sociais e da nossa própria participação cidadã.

NOTÍCIAS FALSAS E POLARIZAÇÃO: A ATMOSFERA DO BOMBARDEIO

A tecnologia, as redes sociais e a internet permitiram que os usuários – nós, pessoas comuns – nos tornássemos produtores de conteúdo. Ao compartilharmos histórias, status e informações nas nossas próprias redes sociais, estamos sendo canais de conteúdo. Poucos anos atrás, essa tarefa era quase exclusiva da mídia tradicional: os jornais na televisão, no rádio, na internet e em papel eram os canais que disseminavam informações a nós, o público. Além de ser um filtro das próprias informações, checando sua veracidade e “passando a limpo” seus contextos. Essa lógica ainda é verdadeira, mas a possibilidade de nós mesmo produzirmos e disseminarmos conteúdo foi adicionada à equação.

A possibilidade de qualquer pessoa ser produtora de conteúdo, unida à polarização latente (principalmente na política), abriu portas a uma realidade problemática: a grande proliferação de notícias falsas, as famosas fake news. Muitas vezes, as “notícias falsas” são completamente mentirosas no seu conteúdo, em outras são tiradas do contexto – como exemplo, pense que um candidato à presidência deu uma entrevista nos anos de 1990 e agora, quase 30 anos depois, ela é veiculada novamente como se fosse atual.

Algo que o movimento #NãoValeTudo busca é pesquisar e discutir a relação entre polarização e notícias falsas. Muitos conteúdos falsos que são disseminados indiscriminadamente são feitos por portais que têm visões políticas determinadas e usam da internet para difamar a oposição, espalhar boatos e factóides. Isso só é possível, também, pelo amplo acesso às tecnologias e pela formação de bolhas informativas aliadas à pós-verdade (a qual explicaremos a seguir)…

A TECNOLOGIA NA NOSSA VIDA E NAS ELEIÇÕES

O acesso à internet por 64,7% da população brasileira, somando 116 milhões de pessoas, é muito significativo – apesar de ainda restrito. A realidade da maioria dos brasileiros de classe média e classe média alta é estar conectado 100% do tempo, seja nos e-mails do trabalho, em aplicativos de mensagem instantânea ou de compartilhamento de fotos. As redes sociais, como o próprio nome já diz, configuraram uma nova forma de interação social.

Outro fator que entra na equação são os robôs / Foto: Luca Bravo-Unsplash

Outro fator que entra na equação são os robôs. Sim, robôs. Eles estão nas nossas timelines – linhas do tempo – e conversando conosco em diversos momentos em interações nas redes sociais, normalmente buscando “causar intrigas” ou inflamar discussões. Os bots, como são chamados esses robôs, estão inclusive sendo usados como uma ferramenta para as eleições de 2018. Uma das discussões sobre o uso de bots em eleições, como pode influenciar negativamente nas conversas que as pessoas têm virtualmente – que são “invadidas” por robôs com objetivos específicos, como o de desestimular o papo sobre política. Os papéis dos robôs podem ser muitos e o #NãoValeTudo quer trazer essa discussão à tona, para que entendamos como identificá-los e combater seu possível lado negativo nas nossas redes sociais.

Saiba como identificar robôs nas redes sociais aqui.

Como muito já se falou, existem as tais bolhas informativas nas redes sociais, consequência dos algoritmos das próprias plataformas que colocam nos painéis de notícias – newsfeed – as pessoas, informações e páginas que você mais acessa ou com as quais mais interage. Criando, assim, uma espécie de interação seletiva com aquilo ou com quem você já concorda, muitas vezes.

Além disso, há um grande problema pelo qual as empresas donas de redes sociais têm sido confrontadas: a compra de – ou o acesso a – dados de usuário sem sua autorização. A gravidade dessa questão é extensa: quando você se propõe a participar de uma rede social, como fica seu direito à privacidade? Essa é uma das questões levantadas pelo #NãoValeTudo. Para ilustrar, mencionamos um caso que levou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, ao Senado estadunidense para explicar por que uma empresa conseguiu, por meio de um aplicativo dentro da rede social, “acesso a 87 milhões de perfis que ficaram à disposição da empresa de análise de dados”, de acordo com o Tecnoblog. Leia mais sobre o caso aqui.

Esse fenômeno de “bolha” fortalece e é fortalecido também pelo viés de confirmação: isto é, a tendência em acreditar somente naquilo que corrobora nossas crenças, opiniões e pensamentos. Obviamente, isso não pode ser saudável a uma democracia, que por princípio reúne pensamentos diversos.

Agora, quando unimos a proliferação de notícias falsas, o viés de confirmação e a tecnologia como um meio de interação e distribuição, temos um momento crucial de parar para pensar até onde chegamos. O movimento #NãoValeTudo encoraja o combate às notícias falsas, além de questionar o nosso uso da tecnologia em diversas frentes: como acontecem a venda de dados de usuários de redes sociais, por exemplo? Como fica a nossa privacidade nesse universo de informações?

Traremos nas próximas semanas diversas discussões que estão na pauta do movimento #NãoValeTudo, para conversarmos sobre como fortalecer a nossa democracia utilizando, inclusive, a tecnologia.

Conteúdo do Portal Politize! escrito por Bruno Blume.

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