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Hospital São Marcos, em Teresina, enfrenta falta de recursos do SUS

O Brasil possui 1.827 Santas Casas e Hospitais Filantrópicos que representam metade dos atendimentos do SUS em todo o país

21 de abril de 2022, às 09:00 | Douglas Cordeiro

O Brasil possui, atualmente, 1.827 Santas Casas e Hospitais Filantrópicos em todas as unidades da federação. Em alguns municípios do país, são hospitais desta rede a única alternativa de atendimento médico da população. São 130 mil leitos e 26 mil UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). A rede de filantropia é responsável pelo atendimento de 50% dos casos de alta e média complexidade e 70% dos casos de alta complexidade do SUS (Sistema Único de Saúde).

Mas as unidades hospitalares que atendem a maioria dos brasileiros que não podem pagar um plano de saúde está abandonada pelo poder público.

"Nós somos o SUS. O SUS não existiria sem esta rede de hospitais filantrópicos. Hoje, nós temos uma tabela do SUS que está defasada há 17 anos e uma dívida que chega R$ 20 bilhões. Nós não temos condições de manter os hospitais como estão hoje", disse o advogado Joaquim Almeida, presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Piauí.

Joaquim Almeida revelou que o SUS paga hoje, pela consulta de um médico, R$ 10,00 pelo seu trabalho.

"Claro que no final o médico não recebe este valo porque nós completamos para que a remuneração seja condizente o que é pago, em média, pelo mercado. É assim que nasce o nosso déficit. Mas não é só isso. Temos tratamentos com remédios caríssimos. Nós realizamos determinados procedimentos que custam até R$ 200.000,00 e o SUS paga R$ 5.000,00 e estes valores ainda são pagos com 90 dias de atraso. Outro detalhe é que as compras feitas hoje já têm um outro valor amanhã", declarou.

Sobre a possibilidade de tentar resolver o impasse por via judicial, Joaquim Almeida disse que, neste momento, está mostrando a necessidade de manter contratos mais longos e com valores reais.

"Ninguém pode montar uma estrutura como aquela (Hospital São Marcos), sem um garantia dos repasses. Por exemplo, nenhum fornecedor de quimioterápico vai fazer um contrato com você se ele souber que o contrato com o SUS é de apenas quatro meses. Se foi feito, será mensal e com o preço muito mais caro", afirmou.

Joaquim Almeida, presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Piauí / FOTO: Portal O Dia

O advogado, é um dos administradores do Hospital São Marcos, referência no tratamento de câncer no Piauí.

"Nós atendemos cerca de 98% dos casos de câncer no Piauí e 100% das crianças que possuem a doença. São mais de 40.000 atendimentos por ano. Durante 68 anos, este serviço tem sido feito por nós. Nos casos de câncer com alta complexidade, nós fazemos cirurgia, quimioterapia e radioterapia. O Hospital São Marcos tem três máquinas de radioterapia que atendem pelo SUS no Piauí. Um máquina custa mais de dois milhões de dólares", contou.

Recentemente, a prefeitura de Teresina quase cancelou contrato que mantinha com o hospital. Para não perder o financiamento do município, foi encontrada uma solução provisória.

"Temos um contrato de quatro meses e durante este período estamos discutindo e mostrando a importância do Hospital São Marcos para Teresina. Hoje, nós temos um déficit de R$ 2.200.000,00 por mês. Então, estamos explicando que não é mais possível renovar o contrato com este valor. O Hospital São Marcos nasceu para prestar este serviço, ele não tem sentido como hospital particular, bonito, estruturado, isso para nós não é nada. Quando ele foi idealizado pelo meu pai não foi para fazer atendimento na área privada e sim, para receber as pessoas pobres que não tinham condição de ter um plano de saúde. Nós estamos subsidiando o SUS", revelou Joaquim Almeida.

Em relação ao governo do Estado, o advogado disse que o hospital tem recebido repasses frequentes.

"Graças ao governo do Estado nós ainda estamos abertos. O governo estadual vem tentando solucionar o problema e tem feito repasses para que a gente possa continuar nossos serviços", revelou.

Dr. Joaquim Almeida fez um desabafo e disse que problema financeiro enfrentado hoje pelos hospitais é uma questão política.

"As vezes eu fico pensando que o objetivo é a destruição do SUS. Quando você está prejudicando um setor que representa 70% do sistema e ao mesmo tempo abandona a parte pública, que está abandonada, o que se espera é que tudo isso acabe e que as pessoas sejam obrigadas a pagar um plano de saúde. Nos últimos 10 anos, com o fechamento de vários hospitais, o Brasil perdeu cerca de 400 mil leitos. Será que a maldade com o nosso povo vai chegar a tanto?", finalizou.

UNIDADES FILANTRÓPICAS DO PIAUÍ

  • MARCOLÂNDIA - Fundação Hospitalar Joaquim Simeão Filho
  • PAULISTANA - Associação Beneficente de Amparo Médico Hospitalar
  • PEDRO II - Sociedade Beneficente São Camilo
  • PARNAÍBA - Instituto Praxis de Ação Social
  • PARNAÍBA - Sociedade de Proteção à Infância (Marques Bastos)
  • PARNAÍBA - Santa Casa de Parnaíba
  • CAMPO MAIOR - Sociedade de Proteção a Infância
  • TERESINA - Fundação Padre Antônio Dante Civiero
  • TERESINA - Clínica Batista Peggy Pemble 
  • TERESINA - Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer 
  • TERESINA - Centro Integrado de Reabilitação (CEIR)
  • TERESINA - Hospital São Marcos
  • TERESINA - Associação Piauiense de Combate ao Câncer


Hospital São Marcos, referência no tratamento de câncer no Piauí / FOTO: Portal GP1


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