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Teresina entre as mais violentas do mundo, como assim?

Pesquisas não provam que Teresina e o Piauí estão entre os mais violentos do país e do mundo. É preciso olhar bem para a metodologia das estatísticas

11 de junho de 2017, às 02:21 | Wesslley Sales

Recentemente duas pesquisas colocaram Teresina e o Piauí entre os locais mais violentos do país e do mundo. Não é de se estranhar que as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro não aparecem entre as 50 mais perigosas? Então, saímos da superficialidade para mostrar detalhes dessas análises.

Primeiro é preciso compreender que no Brasil existem “métodos” de contagem de homicídios. Isso significa que São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, tendem a falar de “eventos”. Em uma chacina com 10 mortos não entram para estatística 10 homicídios, mas contam como apenas um (1) evento. Desta forma, como poderiam aparecer entre os mais violentos? Já no Piauí e em outros Estados do Nordeste o trabalho é feito diferente. Aqui temos um parâmetro real de quantas pessoas foram assassinadas. Não há maquiagem de dados como nos “eventos”. Cada vítima é georeferenciada e, portanto, dentro de uma metodologia científica que garante a clareza e fidedignidade da informação. Tanto é assim que, a pesquisa da ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal parabeniza a transparência de informações da Secretaria de Segurança ao informar que em 2016 foram 363 homicídios confirmados. Com Estados fazendo a “contagem” de forma errada podemos concluir que a pesquisa, embora tenha melhorado em sua metodologia desde a última edição, está sendo levada ao erro ao apontar Teresina como a 38ª cidade mais violenta do mundo. 

Quantas pessoas foram de fato assassinadas em São Paulo ou no Rio de Janeiro? Isso só para citar alguns Estados que pecam em sua “metodologia” de informação. Vale lembrar que Estados, principalmente do Nordeste, estão se mobilizando para que o Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública, possa universalizar a apresentação destes dados para evitar distorções absurdas como mostradas nesta pesquisa mexicana.

Existe muito mais um sentimento, a sensação de violência que o crime propriamente dito. Isso é tão forte e perigoso quanto ser vítima

Outro ponto questionável mostrado pela ONG do México é que o recorte feito por eles abrange cidades com 300 mil habitantes ou mais, observando a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, como preconiza a Organização Mundial de Saúde-OMS. Descarta, portanto, municípios com 50 mil habitantes, por exemplo, que podem ser tão ou mais violentos que aqueles presentes na lista mostrada pelo estudo.

Já a pesquisa da revista Exame, que mostra Teresina como a 3ª capital mais violenta do país peca em dois pontos cruciais. Não leva em conta os dados da Secretaria de Segurança, mas do DATASUS e do IBGE. Além disso, inclui óbitos no trânsito como se fosse análise de vítima decorrente de violência produzida por homicídios. O período pesquisado é de 2004 a 2014, fora da atual realidade do nosso Estado onde os índices estão em queda. 

Por outro lado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgou em junho de 2017 dados do Atlas da Violência, avaliando assassinatos entre 2005 a 2015, comprova que o Piauí reduziu em 9,6% esta modalidade de crime quando comparado 2015 com 2014. Mostra também que este último ano foi o mais violento em toda a série história, o que contribuiu para a elevação de 54% nos CVLIs (Crimes Violentos Letais Intencionais) em cinco anos (2010 a 2015). Vale ressaltar que a pesquisa também mostra as 30 cidades (com mais de 100 mil habitantes) mais violentas do Brasil. Nenhuma delas é piauiense. Isso contradiz os dois últimos estudos divulgados pela revista Exame e pela ONG Mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, que apontam o Piauí e Teresina entre as mais violentas do mundo e do país. Os dados do IPEA, no entanto, corroboram e dão força aos levantamentos oficiais produzidos pela Secretaria de Segurança do Piauí.

Com base nestas três análises não resta dúvida que a população sofre com criminalidade no país e no Piauí não seria diferente. Porém, vivemos distante do caos propalado por alguns setores da imprensa, organizações de classe e políticos. Existe muito mais um sentimento, a sensação de violência que o crime propriamente dito. Isso é tão forte e perigoso quanto ser vítima. Está claro que é preciso muito mais investimento em segurança pública, mas fica também uma desconfiança: Porque e a quem interessa manter esta sensação de violência no Piauí?


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