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"Mulher com 50 é bonita e gostosa", diz atriz Cláudia Ohana

Cláudia Ohana parece ter feito um pacto com o tempo. Aos 56 anos, a atriz mantém o frescor e a vivacidade dos 15

26 de maio de 2019, às 09:21 | Rodrigo Sousa

Cláudia Ohana parece ter feito um pacto com o tempo. Aos 56 anos, a atriz mantém o frescor e a vivacidade dos 15, quando foi morar sozinha no Rio para tentar a sorte na carreira artística. Com 1,60 metro de altura e 45 quilos, ela também conserva a mesma forma física da juventude. E se surpreende com quem a considera “muito bem para a idade”. "Acho que ainda existe um culto à juventude. Inclusive vou lançar a campanha: ‘mulher com 50 também é bonita e gostosa’ (risos). Não é só a menina de 20 que é bonita e gostosa. Mulher de 50 é porque ela se fez, ela merece”, diverte-se ela, sentada muito à vontade com os pés descalços sobre a poltrona da aconchegante casa onde vive no Humaitá, bairro localizado na Zona Sul do Rio.

No ar como a Janice de Verão 90, Claudia lembra que começou a se cuidar na década de 80, quando embarcou na onda do estilo de vida saudável. "Sempre me cuidei e tive uma vida saudável. Não bebo, não saio muito à noite, durmo bem, me poupo muito”, conta a mãe da atriz Dandara Guerra, de 35 anos (de seu relacionamento com o cineasta Ruy Guerra, de 87 anos), e avó de Martim, de 13 anos, e de Arto, de 7. Com quase 500 mil seguidores no Instagram, ela faz sucesso quanto posta fotos de biquíni. E se envaidece, mas principalmente se diverte com alguns comentários. "Acho até engraçado quando falam que tenho um corpão. Sou uma formiga atômica, tenho um corpinho, sou magrela", argumenta, aos risos.

Solteira, Claudia tem aproveitado o tempo livre para sair com as amigas e se divertir. "Não estou namorando, estava conhecendo alguém. Mas foi só um affair, só fiquei (risos). Enquanto não encontro a pessoa, penso o seguinte: ‘Girls just want to have fun (meninas só querem se divertir)’. Ainda tenho um lado romântico, de querer encontrar alguém. Não sou daquelas que falam: ‘estou muito bem sozinha!’”, afirma ela, que não abre mão de ficar em casa, fazendo maratona de séries ou só curtindo a casa mesmo. “De noite tenho 150 anos e de dia tenho 15 (risos). Desde nova, sempre fui caseira e velha".

Com 40 anos de carreira e morando sozinha desde os 15, Claudia encara a maturidade com bons olhos. "Quando você é jovem não dá valor a nada, não tem a menor noção de nada. Eu era muito insegura. Hoje em dia sou mais segura. Não me levo tão a sério. E sei também que nem tudo é tão importante, nem tudo é tão grave, dane-se. Um dia você fez uma merda? Ok. No outro dia você faz uma coisa melhor", ensina.

INSTAGRAM

"Hoje postei fotos na praia. Botei no Insta Stories assim: ‘gente, não sou vagabunda. Estou na praia porque a gente tem folga dia de semana’. E aí é claro que vai ter post de biquíni. As pessoas têm essa coisa de que uma mulher de 50 anos não pode ter um corpo. E, hoje em dia, nós mostramos que podemos muito, graças a Deus. Eu me sinto bem! A idade é uma coisa que as pessoas criaram um número e você fica meio preso àquele número. Esse negócio de idade é muito relativo".

VELHA E ADOLESCENTE

"Vario um pouco em relação à idade. De noite tenho 150 anos e de dia tenho 15 (risos). Desde nova, sempre fui caseira e velha. Até tive aquela época de sair toda noite. Mas sempre fui velha no sentido de ficar em casa, não gosto tanto de rua. Tem gente que ama, né? Tenho uma turma das ‘migas’ que gostam de sair à noite, vão dormir de madrugada. Odeio ver o sol nascer. Sou assim desde a adolescência".

EDUCAÇÃO SAUDÁVEL

"A década de 80 veio com um boom de saúde. Foi lá que começou esse movimento de cuidar da saúde, de tomar shake, dos Gracie (Família Gracie de lutadores brasileiros), de comer mamão, açaí e andar de patins. Foi lá que começou essa onda de fazer exercício e peguei essa onda. Acho que a minha geração pegou essa fase e começou a se cuidar. Sempre me cuidei e tive uma vida saudável. Não bebo, não saio muito à noite, durmo bem, me poupo muito".

ESTEREÓTIPO

"Sempre comi muito leve e saudável. Isso não quer dizer que eu seja radical. Quero quebrar esse mito que as pessoas têm de me olhar e falar assim: ‘ela faz ioga, é hippie, só come verde, é praticamente uma vegana’ (risos). E não sou! Gosto de dança, de jazz, adoro esse rebolation que rola agora, como rabada, como carne. Isso não quer dizer que não faça ioga, meditação. É que tenho um visual orgânico, sou uma pessoa orgânica. Meu cabelo é o meu cabelo mesmo, está bem selvagem e enorme por causa da novela".

AVANÇO

"Hoje em dia os negros estão com voz. Acho que é o momento black power total. E acho incrível a união e a conscientização deles, porque não adianta eu dizer o que eles passam porque não sei o que é. Sei os preconceitos que tive na vida porque todo mundo tem os seus. Quando você começa e é bonita, todo mundo acha que você é bonita e burra. Esse preconceito há. Agora tem preconceito com a mulher mais velha. Por que a mulher mais velha não pode andar de shortinho e patinar na Lagoa (bairro na Zona Sul do Rio)?".

GERAÇÃO DEMOCRÁTICA

"A década de 80 era muito mais livre. As pessoas eram menos preconceituosas. Por exemplo: a minha turma, que era de cinema, ficava no Posto 9 (em Ipanema, na Zona Sul do Rio), e tinha milhares de pessoas.  A gente era amigo daqueles que eram criativos, que tinham coisas a dizer, que tinham projetos, que sonhavam. Eu vivia na praia, era muito democrática, não me importava se a pessoa era verde, amarela, azul, gay, se alguém tinha carro ou casa não sei aonde. Hoje em dia preocupa-se muito com o status da pessoa. Acho que isso é muito forte. Atualmente o status é medido pela quantidade de seguidores da pessoa na rede social. Não é nem dinheiro, mas quantos seguidores a pessoa tem".

SAUDOSISTA?

"Não sou saudosista, não sou uma pessoa que fica: ‘ah, como era bom aquele tempo!’ Não sou mesmo. Na minha casa não tem foto minha. Não sou uma pessoa que me cultua, embora seja narcisista. Não gosto de ver coisas minhas antigas, não estou nem aí para como é que eu era, estou para como é que eu estou. Não tenho a menor paciência para rever meus trabalhos. Já me vi muito. Gosto de tirar foto da minha filha e dos meus netos, mas eles não deixam. Minha filha não quer tirar foto e meus netos não querem sair na foto, eles tampam a cara (risos)".

NARCISISTA

"Sou narcisista, sem dúvida. Qualquer ator tem que ser narcisista, senão ele não quer aparecer. Não é aparecer no sentido de: ‘hey, estou aqui’. Sou supertímida. Vou a uma festa e, quando chego, não sou daquelas atrizes furacão, sou low profile. Sou narcisista no contexto de me gostar. Às vezes não gosto de mim, mas tenho Narciso, tenho um espelho para mim, tenho vontade de me arrumar, de ficar bonita. Porque existem vários tipos de narcisismo: tem o intelectual, que eu acho que eu toco violão, eu canto, eu tenho os meus talentos. Tenho narcisismo em relação a isso".

FEMINISMO

"É incrível como as mulheres estão se unindo mais nos dias de hoje. Sou muito mais amiga das minhas amigas, torço muito mais por elas, enalteço a beleza, a qualidade e o talento de cada uma. Acho que a mulher era muito mais competitiva. Hoje em dia a gente fala muito para uma amiga: ‘você está linda!’ A gente se elogia mais. Às vezes as coisas são radicais, mas a gente tem que ser radical para depois chegar a um meio termo".

CULTO À JUVENTUDE

"Acho que ainda existe um culto à juventude. Inclusive vou lançar a campanha: ‘mulher com 50 também é bonita e gostosa’ (risos). Não é só a menina de 20 que é bonita e gostosa. A menina de 20 tem obrigação de ser. Mulher de 50 é porque ela se fez, ela merece. Acho que a gente ainda tem que se habituar com estética da mulher mais velha. A gente já está mais habituado com o homem mais velho. A gente aceita muito mais homem de cabelo branco, com barriga e rugas. A mulher não pode ter ruga, barriga. As pessoas são mais cruéis com as mulheres".

CORPÃO?

"Meu corpo não é incrível, não tenho o corpo de gostosa. Acho até engraçado quando falam que tenho um corpão. Sou uma formiga atômica, tenho um corpinho, sou magrela (risos). O meu corpo é bem diferente do da minha família. Minha mãe era mais para gostosa. Tinha peito grande, bunda, coxão. Minha irmã também faz o tipo gostosa. Minha filha já tem uma coisa europeia, mas tem peitão. Sou a única miúda, mignon, não sei por quê. Queria ser mais mulherão. Mas às vezes fico feliz com meu corpo porque posso botar uma minissaia que nunca fico vulgar. Oscilo entre 45, 46 e 47 quilos. Tenho 1,60 m. Tenho roupas de quando eu tinha 15 anos de idade. As roupas ainda entram em mim. No vídeo pareço mais alta porque tenho uma coisa proporcional. Não tenho pernão, coxão. Nunca engordei muito. Só engordei em A Próxima Vítima (trama exibida em 1995), cheguei a 50 quilos. Estava linda, com o rosto redondo. Acho bochecha a coisa mais linda".

AS ‘MIGAS’

"Tenho um grupo de amigas no WhatsApp e a gente se fala o tempo todo porque estamos todas solteiras. Fazemos muita coisa juntas. Uma é fotógrafa, a outra é estilista, a outra é jornalista. Elas sabem que não gosto muito de sair à noite. Então a gente vai à praia, faz trilha. Outro dia tentaram me colocar para voar de parapente. Não rolou (risos). A gente vai para show, festa, mas elas sabem que não fico até tarde".

DIVERTICULITE

"Faz quase três anos que precisei ser operada de diverticulite (que ocorre quando há inflamação de um ou mais divertículos, pequenas bolsas que se formam com o passar dos anos na parede do cólon). Logo depois que você sai do hospital, depois de uma cirurgia, tudo muda. Você fica muito corajosa, porque sou muito medrosa e nunca imaginei que fosse operar. Nunca tinha tomado anestesia geral. E 15 dias depois de ser operada, tive que ir para São Paulo estrear um musical (Forever Young)".

DIAGNÓSTICO

"Estava ensaiando o musical e ao longo dos ensaios tive três crises de diverticulite. Eu estava magra, quase com 44 quilos. Não comia nada com medo de piorar. Porque não pode comer nenhuma semente. Mas senti uma dor estranha e fui para o hospital rapidamente. Depois que tive três vezes seguidas, meu médico falou: ‘vou ter que operar. Claudia, você não vai se arriscar a ter uma septicemia e depois botar uma bolsa de colostomia. Você pode estar em Pindamonhangaba do Agreste e se ferrar toda’. Minha filha falou: ‘então opera, mãe’. Ela me deu o maior apoio".

PÓS-OPERATÓRIO

"É horrível operar. E depois, quando você sai de lá, na hora parece que você tomou um monte de facada. Quando você chega em casa depois da cirurgia, pensa: ‘nada tem valor, o importante é ter saúde’. Você fica dadivosa, generosa. É uma loucura! E fiquei impressionada porque tive uma recuperação muito rápida. Embora eu seja magrela, eu malho e não podia forçar o abdômen, mas usava a força dos meus braços para levantar da cama. Eu pensava: ‘graças a Deus que eu malho’. Agradeci todo o esforço. Quando cheguei muita coisa mudou com as pessoas, com tudo. Mas confesso que depois de um tempo vem a vida e você esquece o quanto é importante. É muito louco!"

MANIA DE DOENÇA

"Tenho mania de doença. Mas não sou de tomar muito remédio. Fiquei muito chateada de não ter me curado da diverticulite só com alimentação e chás. Já fiz um curso de enfermagem para um personagem que fazia em Psi (série da HBO Brasil). Sei escutar o coração e o pulmão. Eu faria medicina. Aliás, quero fazer um curso de primeiros socorros. Na minha família sou a pessoa para quem todo mundo liga para me perguntar o que tomar".

TERAPIA

"Já fiz muita terapia, de vários tipos. Mas uma coisa muito legal que fiz e me ajudou muito foi neurolinguística para perder o medo de andar de avião. Eu tinha muito medo de andar de avião! E eu viajava muito! Foi incrível para mim e hoje viajo sem problemas. Agora entrego para Deus. Tinha tanto medo que já cheguei a estar no avião na pista e pedir para sair".

EQUILIBRADA

"Não sou uma pessoal radical com a minha alimentação. Como chocolate, doce, rabada. Acho que meus hábitos são bons, me dei uma boa educação alimentar. Bebo muita água, tomo um mega café da manhã, como sempre salada, gosto do light. Preciso fazer ginástica e me exercitar de alguma maneira senão meu corpo grita, pede exercício. Também preciso dormir, sou uma pessoa que durmo nove horas por noite. Acho que isso faz uma baita diferença. Não tomo refrigerante e não bebo álcool. Às vezes tomo uma, duas taças de champanhe. Não tenho aquela necessidade que o carioca, principalmente, tem de: ‘vamos sair para beber’. O programa aqui no Rio é sair para beber. Acho isso tão surreal".

ATIVIDADES FÍSICAS

"Mudo muito de atividade física, mas no momento estou fazendo esteira e musculação. Mas também faço dança, às vezes vou no Justin (Neto, personal dancer das famosas), outras vezes mudo e faço outra dança com outras pessoas. Faço academia mesmo, natação às vezes, ginástica localizada. Outras vezes faço só caminhada, vou andar na praia e jogar frescobol, patinar. Fico mudando um pouco. E sempre faço ioga, sei me alongar, sei fazer sozinha também".

FAMÍLIA

"A Dandara é muito parecida comigo fisicamente. A gente se vê muito. Somos bem unidas. Mas em relação à personalidade ela é mais parecida com o pai. Sou muito mais easy going do que ela. Tem uma coisa que curto muito e que acho muito legal da minha personalidade que é gostar de brincar com as crianças. E brinco muito com meus netos. Curto jogar mímica, jogo da memória, ver filme de criança, desenho. Adoro programas de criança. É muito bom! Também sou uma avó que faz comidinha, mas é sempre cabelinho de anjo e ovo. Eles eles amam (risos). Quando meu neto mais velho fez 13 anos ele fez uma festa do pijama aqui em casa. Foram 30 crianças dormindo na minha casa. Passaram a noite em claro".

ZEN

"O Ruy (Guerra, pai de Dandara) e eu sempre fomos amigos. Ele sempre falou que a gente é para a vida inteira. Tenho outros ex que também são muito meus amigos e de quem gosto muito. Geralmente fico numa boa, é difícil eu brigar. Sou muito zen, mas no relacionamento acho que às vezes sou muito aquariana no sentido de gostar de ficar sozinha. Preciso dos meus momentos. Acho que isso é o mais difícil nos meus relacionamentos: fazer a pessoa entender que preciso ficar sozinha. E a gente pode ficar sozinho junto. Mas é difícil. Nem todo mundo consegue respeitar isso. Sou capaz de ficar o dia inteiro na minha".

PERDA

"Quando você perde uma mãe muito nova, com 15 anos, isso marca a sua história, como várias coisas marcam a gente (a mãe de Claudia, a montadora de filmes Nazaré Ohana, morreu em um acidente de carro). Sem dúvida é uma coisa que dá uma instabilidade, uma insegurança. Fui morar sozinha com 15 anos no Rio. Ali eu comecei a procurar trabalho como atriz. Conheci muita gente, comecei a fazer figuração. Na verdade quando minha mãe morreu, eu e minha irmã não tínhamos para onde ir. E aí a gente foi para a casa da Gracinha Motta, que é irmã do Nelsinho Motta. Ela era muito amiga da minha mãe. E ela era assistente de direção do Daniel Filho em Dancin' Days.Então ela me levou para fazer figuração".

SEMPRE ATRIZ

"Era atriz desde nova. Vivia fantasiada, com plumas na cabeça, fazia roupas de princesa e andava pela casa maquiada, bem louca. Ainda bem que virei atriz. Com 12 anos fiz a peça Flicts, que a Regina Casé dirigiu. Aí me chamaram para fazer uma novela na Globo. Mas minha mãe falou: ‘de jeito nenhum que você vai virar criança prodígio fazendo novela’. Ela não deixou. Mas eu sempre fazia fotos. Fiz um vídeo para a chamada da Globo e quem trabalhava com o Hans Donner era um grande amigo da minha mãe. E ele me chamou para fazer uma vinheta internacional com 12 anos. Também já me chamavam para fazer curta-metragem. Já estava nesse universo".

BATALHADORA

"Quando comecei a trabalhar como atriz eu pegava a lista da Embrafilme e ligava para todas as produções. Durante anos eu mesma me agenciava: tratava de grana, contrato, tudo. Ligava e falava: ‘meu nome é Claudia Ohana (peguei o nome da minha mãe), gostaria de fazer um teste para o seu filme’. Disposição é uma coisa que você tem ou não. Eu tinha vontade de ligar. Às vezes eu faço isso ainda. Tem um filme do Fulano que eu gostaria de fazer? Eu ligo e peço: ‘Fulano, eu gostaria de fazer o seu filme’. Tem que ter tesão no seu trabalho. Não é só o troféu que você vai conquistar, é a caminhada. Se você não tem tesão no seu caminhar você não consegue".

Cláudia Ohana

Com informações da Revista Quem.


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