Quem é que tem medo de sociologia?
Historicamente, a obrigatoriedade ou a exclusão da Sociologia no ensino médio brasileiro é caracterizada pela intermitência, sempre atrelada ao contexto sociopolítico vigente
No Brasil, a Sociologia chegou no final do século XIX, como uma ciência sob a influência do pensamento positivista de Augusto Comte - de oposição ao regime monárquico influenciado pela Igreja - e ausente de estudos sistemáticos, sendo substituída ao longo de toda a ditadura militar pela Educação Moral e Cívica, de caráter acrítico e nacionalista.
Historicamente, a obrigatoriedade ou a exclusão da Sociologia no ensino médio brasileiro é caracterizada pela intermitência, sempre atrelada ao contexto sociopolítico vigente. Ou seja, em cada momento histórico de sua presença no currículo esteve atrelada às questões com as quais as ciências sociais se mobilizaram dentro e fora do campo científico.
Mas, por que a Sociologia não é institucionalizada e consolidada no currículo do ensino médio? Por que, em determinados períodos históricos, a Sociologia é incluída ou excluída do currículo do ensino médio? Afinal, quem tem medo da Sociologia?
A Sociologia foi proposta pela primeira vez durante o período imperial, em 1882, pelo então deputado Rui Barbosa. Mas, como disciplina escolar, ela se iniciou, mais efetivamente, em 1891, durante o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, pela reforma educacional de Benjamin Constant, que previa romper com o caráter propedêutico do ensino secundário. Todavia, em 1901, com um presidente civil no poder, a Reforma Epitácio Pessoa retirou a obrigatoriedade da Sociologia das escolas, sem que a disciplina tivesse sido incluída, de fato, nos currículos escolares.
A história da Sociologia no ensino médio é um processo sociopolítico de idas e vindas, que contribui para a fragilidade de sua permanência no ensino médio.
Em 1925, a Sociologia reaparece com a Reforma Rocha Vaz, tendo como marco a implantação da disciplina de forma regular no principal educandário das elites brasileiras, o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Contudo, em 1942, a disciplina voltou a ser formalmente excluída do currículo obrigatório na Reforma de Gustavo Capanema, durante o regime autoritário de Getúlio Vargas, no Estado Novo (1937-1945).
Semelhante ao neofascismo vigente, em 1964, as intervenções e propostas para o sistema escolar passaram a priorizar a formação profissionalizante, retirando a Sociologia, a Filosofia e as Ciências Humanas do Ensino Secundário. Pois, em regimes ditatoriais, a Sociologia é sinônimo de “comunismo”, que seu ensino serviria de “aliciamento político”, perturbando o regime e sua presença seria um indicador de periculosidade para as elites da casta dominante.
Através da Lei nº 11.684/2008, a Sociologia se tornou obrigatória nos três anos do Ensino Médio, na rede pública e privada. Porém, em 2017, a reforma educacional do governo Michel Temer, tirou a obrigatoriedade da Sociologia, deixando-a como optativa no ensino médio, priorizando uma concepção de educação profissionalizante e tecnicista.
Por um lado, foi durante o processo de desagregação da sociedade escravocrata e senhorial que se deu a incorporação da sociologia à cultura brasileira. E, por outro lado, foi durante o processo de reforma do Estado, no governo “interino” de Michel Temer, que a Sociologia (e a Filosofia) perdeu a obrigatoriedade no ensino médio.
A Sociologia é uma ciência crucial à crítica no ensino médio; para analisar os processos sociais e compreender as suas causas e consequências. Por isso, ela mete medo no fascismo, no casuísmo, na corrupção, no golpismo, nas elites etc.
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