Os professores da UERJ merecem seus salários
A situação da UERJ é a seguinte: professores sem salários, com ponto facultativo e semestre letivo suspenso por tempo indeterminado
A situação da UERJ é a seguinte: professores sem salários, por isso com ponto facultativo e semestre letivo suspenso por tempo indeterminado, sendo que o direito ao 13º, pode esquecer, lá já ficou revogado sem lei.
Chamo atenção para um debate surgido nesse contexto: a proposta, vinda da Faculdade de Direito, para, com base naquilo que chamam de “modelo de Harvard”, mudar a sede do curso de pós-graduação para o Tribunal de Justiça, no centro da cidade. Harvard, financiada por doações de ex-alunos e empresas, poderia servir de exemplo. Contudo, houve uma grita de professores de outros cursos da UERJ (1).
Além disso, surpreendem opiniões no sentido de que a UERJ politizou-se com uma ideologia acadêmica esquerdista, razão pela qual seria “justo” não pagar aqueles professores, para o Estado Mínimo operar, algo do tipo “aqui se faz aqui se paga”, ou, no caso da UERJ, não se paga (2).
Formei-me na Faculdade de Direito da UFRJ. Curiosamente, existe uma situação geográfica interessante. A maioria dos cursos situa-se na Ilha do Fundão, parcela menor na Urca, finalmente, as faculdades de Filosofia e Ciências Sociais (IFICS) e a minha querida Faculdade de Direito (FND), ficam separadas por alguns quilômetros, porém ambas no centro da cidade.
Ao que tudo indica, esse distanciamento, a símile daquele histórico da UFRJ, não teve boa acolhida entre os docentes da Universidade e a história, da segmentação geográfica do direito, não se repetiu.
Nesse contexto, gostaria de citar um “pensador de esquerda” com uma crítica ao intervencionismo disciplinar estatal: Michel Foucault. Segundo ele, em “Segurança, Território, População”, a segmentação territorial favorece o controle e vigilância – aquilo que entende como ‘polícia’ – sendo essa uma tecnologia moderna, para:
“Fazer da cidade uma espécie de quase convento e do reino uma espécie de quase cidade – é essa espécie de grande sonho disciplinar que se encontra por trás da polícia.”
Enquanto isso, os professores da UERJ resistem em situação degradante.
QUEM PAGA A CONTA?
Fato é: financiamento compromete a autonomia universitária e a independência do pensamento científico, que passaria a ser conduzido pelo financiador. Afinal: “Quem paga a conta escolhe a música.” A crítica, de que a música esteja sendo paga pela esquerda só é válida para o financiamento de bolsas e de pesquisas. Não para os salários dos professores. Os professores universitários ingressam em universidades por meio de concurso público e têm direito a sua subsistência.
A pressão de cima, de financiadores, vinda da classe economicamente mais privilegiada, e a pressão de classes menos favorecidas, de beneficiários de bolsas, encurrala a classe média, cujos filhos tradicionalmente frequentam o ensino universitário público. Destruir a classe média, intelectualmente, é destruir a tessitura social da sociedade brasileira.
Se, por um lado, a Universidade não é o único local de produção de conhecimento (Raymond Aron), por outro lado, é inegável ser um local privilegiado de “saber-poder”, cuja aniquilação contribui para o enfraquecimento intelectual da cultura brasileira e favorece a alienação.
Ora, independentemente de ser verdade ou não o que alegam alguns, no sentido da politização do saber por uma ideologia, o novo modelo de financiamento público de bolsas sobreonerou a UERJ e não deu certo a ponto de faltar dinheiro para pagar os professores.
O modelo anterior era bom e funcionava, tinha dinheiro para os professores, e esse não funciona. Precisamos dar um passo atrás.
1 http://www.conjur.com.br/2017-ago-04/professores-reclamam-mudanca-faculdade-direito-uerj
2 http://www.puggina.org/artigo/outrosAutores/docentes-da-uerj-desabafam-diante-da-crise-ma/10677
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