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Homem mantém toda a família em cárcere privado por vários anos no interior do Piauí

"Líder espiritual" proibia contato dos familiares com o mundo exterior e controlava todos os aspectos da vida das vítimas


Um homem de 41 anos foi detido em flagrante após manter sua esposa, filho de 12 anos e outra mulher em regime de cárcere privado em uma residência isolada no povoado Rodeador, área rural de Baixa Grande do Ribeiro, no Sul do Piauí. A operação policial revelou um cenário de horror que perdurava há anos.

As autoridades chegaram ao local após receberem uma denúncia anônima que alertava sobre a situação. Ao adentrarem a propriedade, os agentes se depararam com as três vítimas vivendo em condições degradantes, sob intenso controle psicológico e físico.

"Elas viviam completamente isoladas do mundo exterior. Só podiam sair se estivessem na companhia do acusado ou, segundo relataram, 'se Deus permitisse'", revelou um dos policiais que participou da operação.

O caso expôs um drama familiar que se estendia por anos. O adolescente, hoje com 12 anos, estava privado de educação formal há cinco anos. Sua existência oficial para o Estado brasileiro só foi reconhecida quando completou nove anos, momento em que o Conselho Tutelar interveio para que sua certidão de nascimento fosse emitida.


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MANIPULAÇÃO RELIGIOSA COMO FERRAMENTA DE CONTROLE

Durante os depoimentos, as vítimas revelaram que o suspeito se autoproclamava um "líder espiritual" e utilizava essa posição para exercer domínio absoluto sobre todos os aspectos da vida familiar. Embora nominalmente seguissem a denominação "Deus é Amor", o grupo havia rompido relações com a comunidade religiosa local após desentendimentos com outros líderes.

"Ele manipulava a fé como instrumento de poder. Criou um sistema onde era a única autoridade, o único intérprete da vontade divina", explicou o delegado Marcos Halan, responsável pela investigação.

A situação ganhou contornos ainda mais complexos quando familiares de uma das mulheres sugeriram às autoridades que o arranjo familiar seguia um modelo de poliamor. Contudo, as vítimas negaram veementemente essa versão, afirmando que viviam sob regime de total submissão, sem autonomia para tomar decisões ou manter relações sociais com qualquer pessoa externa ao núcleo familiar.

DESAPARECIMENTO E BUSCA DESESPERADA

Um dos aspectos mais perturbadores do caso veio à tona quando o irmão da segunda mulher resgatada informou às autoridades que procurava por ela desde 2019. Desesperado, ele havia inclusive registrado um boletim de desaparecimento, mas nunca obteve pistas sobre seu paradeiro.

"Por quatro anos, não tivemos notícias dela. Era como se tivesse sido engolida pela terra. Agora entendemos que estava aprisionada física e mentalmente", declarou o familiar, visivelmente abalado.

REDE DE PROTEÇÃO E INVESTIGAÇÃO EM CURSO

Após o resgate, as vítimas foram encaminhadas para atendimento especializado, recebendo suporte psicológico e acolhimento institucional. O Conselho Tutelar e a rede de proteção social do município assumiram o acompanhamento do caso, especialmente em relação ao adolescente.

O delegado Marcos Halan revelou que o suspeito já estava sendo investigado por importunação sexual em outro inquérito, o que sugere um padrão de comportamento abusivo. 

"Estamos diante de um caso extremamente grave, com múltiplas camadas de violência. O acusado permanece detido e poderá responder por diversos crimes", afirmou.

Entre as acusações que o homem poderá enfrentar estão cárcere privado, maus-tratos, abandono intelectual e possíveis crimes sexuais, dependendo do avanço das investigações que seguem em andamento pela Polícia Civil.

Local onde a família foi encontrada / FOTO: Reprodução - PC Baixa Grande do Ribeiro



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