Somos uma sociedade de covardes
Até quando vamos nos acovardar, esperando que uma lei, por si só, ou um improvável salvador da pátria venha nos redimir de tanta violência contra as mulheres?
Até quando vamos nos acovardar, esperando que uma lei, por si só, ou um improvável salvador da pátria venha nos redimir de tanta violência contra as mulheres? Até quando, ignavos, vamos nos prostrar diante do genocídio de gênero? Até quando silenciar, ignorar?
Ora, não existe uma lei – não que esta não seja importante – ou um salvador da pátria – porque este jamais existirá – capaz de nos amparar das dores provocadas por todas as formas de violências e mortes de mulheres no Brasil. A verdade é que, enquanto permanecermos temerosos com uma visão relativa do “outro” – no caso da mulher – e alimentarmos a conivência social diante de tantos generocídios, não vamos conter a covardia e a crueldade dos homens contra as mulheres.
Não somos uma sociedade de covardes, mas nós estamos, em pleno século XXI, preferindo nos omitir diante de um fenômeno sociocultural que fere a dignidade, direta e indiretamente, de toda a sociedade – e não somente das mulheres. A violência contra as mulheres é uma mancha moral e criminosa que somente a “Lei Maria da Penha” e/ou a “Lei do Feminicídio” não irão controlar, deter, parar, domar.
Chegamos num nível alarmante de violências contra as mulheres que estamos preferindo fazer a vingança, através de linchamentos, do que assumir uma posição radical de não aceitação de qualquer tipo de violência contra as mulheres. O linchamento do homem agressor de mulheres não vai resolver nem controlar as violências contra as mulheres. É, de fato, uma forma de revelar a indignação social, mas, no dia-a-dia não faz com que os homens mudem as suas atitudes machistas nas relações com as mulheres.
Pois, socos, pauladas, pedradas e chutes contra os agressores até a chegada da polícia não faram com que outros homens (também agressores) ressignifiquem as suas relações com as mulheres. A sociedade tem que radicalizar e não aceitar, sob qualquer pretexto, a violência e as mortes de mulheres, especificamente, por homens. No Brasil, a maioria das vítimas é negra e parda.
Já em 2014, os estados do Amapá, Pará, Roraima, Pernambuco, Piauí e Espírito Santo apresentavam uma taxa crescente de homicídios de mulheres negras e pardas mais de três vezes superior à de mulheres brancas. Logo, além de um generocídios, tem-se, também, um etnocídio. O que torna o fenômeno ainda mais complexo e a necessidade de ser enfrentado por toda a sociedade, sob pena de se instaurar um processo de banalização das violências e assassinatos de mulheres no Brasil.
Trata-se, portanto, de um fenômeno sociocultural complexo – dinâmico, histórico, multidimensional, pluricausal, polifônico, polissêmico –, que exige atenção, conhecimento das causas e participação de toda a sociedade, como forma de se construir a equidade e relações respeitosas entre homens e mulheres, desde a infância. A sociedade não pode achar “normal” nem “aceitar” que os homens violentem e matem as mulheres – companheiras ou não – sob qualquer tipo de justificativa machista, política, religiosa, cultural, moral, ideológica etc.
Para evitar que se chegue a tal situação, todos os membros – homens e mulheres – da sociedade brasileira devem compactuar a não aceitação declarada de qualquer tipo de violência, sob pena de ostracismo, para inibir os agressores e assassinos. Além disso, o Judiciário deve ser diligente e corajoso, numa força tarefa para dá prioridade, publicidade e celeridade aos processos, sem negligenciar com a impunidade.
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