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Poderoso nenhum fica de pé no Carnaval!

Nos anos de redemocratização, Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer foram motivo de pilhérias ou desmoralizações em diversos momentos

04 de março de 2019, às 10:30 | Genésio Júnior

A festa da carne, o Carnaval, é sempre um desafio para os poderosos.

Nem na Ditadura Vargas, onde o Estado Novo queria fazer com que as escolas de samba e marchinhas enaltecessem temas históricos – eles escaparam. Lamartine Babo, foi censurado, mas não perdeu a oportunidade de desmontar o poderoso com a marchinha “Parei Contigo”.

No “período militar” de 1964 a 1984, ou Ditadura Militar como a História nos legou, teve até o Decreto-lei n° 1.077, de 26 de janeiro de 1970, que instituía a censura prévia de publicações contrárias à moral e aos bons costumes. Mesmo assim foram ridicularizados os poderosos. A Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, composta em 1963, ganhou novo significado a partir de 1965.

Pouco depois do Ato Institucional n° 5, o Império Serrano politizou a avenida Presidente Vargas, onde ocorriam os desfiles antes da existência do Sambódromo no Rio. Em 1969, levou o samba Heróis da Liberdade, de Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira, tratando da Inconfidência Mineira e abolição e fazendo referência ao Hino da Independência, atribuído a Pedro I. Por pressão dos censores, Silas substituiu a palavra revolução por “evolução”. Foram muitas as obras de Chico Buarque e Gonzaguinha, entre outros ilustres, que colocaram no chão os poderosos da vêz.

Nos anos de redemocratização, José Sarney, Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer foram motivo de pilhérias ou desmoralizações em diversos momentos.

Neste primeiro ano do Governo Bolsonaro, vimos a questão do laranjal do PSL. O destaque do laranjal ganhou novas cores (?!) com a recente declaração, enviada por escrito por Fabrício Queiróz ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Queiróz é o amigo da família Bolsonaro que foi pego em movimentações suspeitas pelo Conselho de Operações Financeiras (COAF), agora ligado ao Ministério da Justiça de Sérgio Moro.

A cor do carnaval virou o laranja. No Rio, templo do Carnaval, a marchinha que diz “Toma, toma vitamina C, pra não ficar doente e falar com o MP”, ganhou corpo e voz em blocos. São fantasias de toda ordem.

O Carnaval é particularmente um momento que vira pelo avesso nossas tradições, como diz o antropólogo Roberto Da Matta, em sua obra respeitadíssima, “Carnavais, malandros e heróis – Para uma Sociologia do Dilema Brasileiro”, editora Rocco, de 1979, que, neste ano, completa 40 anos. O Carnaval é um momento de pilhéria e gozação, mas deve ser visto como um indicativo de crítica social e mudança de costumes.

O poderoso do momento, Jair Bolsonaro, ainda tem mais três carnavais para enfrentar. Esse do laranjal do PSL é um momento particularmente complicado, pois faz retomar uma fragilidade que vinha sendo deixada de lado pela cobertura da mídia face a temas importantes e fundamentais para todos nós, como a reforma da Previdência e o governo que teremos pela frente. A sociedade está mais preocupada com os seus problemas clássicos, envolvendo segurança, saúde, emprego e educação. Ajuda muito Bolsonaro que os possíveis e evidentes malfeitos dele e dos seus são, momentaneamente, desprezados pelo grosso da sociedade, que viu nos anos passados grandes malfeitos, milionários malfeitos, rapinações profundas dos bens públicos.

O laranjal do PSL que banhou da cor iluminada e solar muitos locais de folia são menos clamorosos que o moralismo que afronta as mulheres, a educação, as comunidades LGBTI, tão naturais e proeminentes no período de Momo.

Bolsonaro que fique esperto, pois todo ano tem Carnaval!

Presidente Jair Bolsonaro / Foto: Veja


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