Joguemos fora só a água, não as crianças
Estamos numa fase em que temos que enfrentar cada dilema com uma tremenda parcimônia, sem se deixar enganar pela própria auto narrativa
O que vamos fazer da democracia representativa no tempo da economia 4.0, da era do compartilhamento, da internet das coisas, a crise da chamada imprensa livre com o “Fake News” entre outras coisas assustadoras que estão a nos emparedando?! Quem disser algo minimalista e que caiba numa só mão, certamente, vai estar mentindo ou se enganando.
Estamos numa fase em que temos que enfrentar cada dilema com uma tremenda parcimônia, sem se deixar enganar pela própria auto narrativa.
Na política brasileira, e com nossa democracia representativa, ganhamos nos últimos anos a Operação Lava Jato e por consequência, todos passamos a enfrentar nossos castelos de areais. Vimos à mostra nossos poderosos no chão, sejam eles de esquerda ou de direita. Vimos nossas instituições, também, aos pandarecos. A Lava Jato mostrou a Justiça com seus também recônditos problemas, que muitos não queriam enfrentar. Aprendi não sei quando, mas boa parte da minha geração, também, a turma que ansiava a redemocratização( a segunda do Século 20) – que, não se mexe com o povo de saia, sejam eles mulheres, padres ou juízes( imagine as saias, as togas).
Líderes foram caindo aos montes. O ex-presidente Lula, que está bem na disputa presidencial do ano que vem, foi um deles. Mesmo tendo terminado um governo com economia crescendo mais de 7%, ele perdeu grande parte de seu patrimônio juntos as classes médias. No Centro, vimos as alternativas se esfacelarem. Esse espaço existe na política brasileira, até porque nosso povo adora a virtude do meio. Os grupos mais conservadores, com a ausência de um nome de centro, se interessante, namoram com os ultra-conservadores, como é o caso do deputado Jair Bolsonaro.
O Mundo parece estar bem à frente das soluções que temos para a vida pública. A sociedade nordestina, que se mantém unida pela pobreza e pela força que o semiárido nos impõe, sempre foi protagonista neste país. Costumo aventar a importância da política nordestina desde a eleição de Fernando Collor de Melo, que ficou mais intensa com as vitórias de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva( Dilma foi uma continuidade, não uma referência), porém é bom destacar que desde a Revolução de 30, as oligarquias nordestinas foram determinantes. Só deixaram de ter protagonismo, marcante, no período da Guerra Fria.
O dilema do momento é como os nordestinos e a política nordestina vão enfrentar tamanhos problemas e ser protagonista para o Brasil que precisamos logo ali? É aflitivo pois sociedades tidas como mais sofisticadas e que lidam com a democracia com mais cuidado, como os Estados Unidos, a Europa, com os problemas na Grã-Bretanha, França e Alemanha - estão baratinadas. Não é só o caso de Donald Trump.
Por incrível que pareça, exatamente pelo embaralhado que as novas coisas nos apresentam, a democracia representativa fica mais importante. Quando o novo confunde mais do que esclarece é necessário ficarmos com o que temos por mais algum tempo. Se as pessoas e os sistemas não nos servem, fiquemos ao menos com os sistemas. Não podemos permitir, em nome da sobrevivência das conquistas, que joguemos tudo no lixo.
Precisamos dar banho na criança suja, mas não joguemos ela fora junto com a água suja da bacia!
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