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Lula ou Bolsonaro? Quem vencer a eleição, como fica a "Classe C" no Brasil?

Eles acreditam que os votos deles podem mudar as coisas, mas não acreditam que o governo pago por eles possa mudar suas vidas

18 de outubro de 2022, às 13:00 | Genésio Junior

O grande intérprete da classe média, em seu nascedouro, foi o francês Honoré de Balzac, que viu como ninguém aquela classe (A Comédia Humana, 1834), surgida na Revolução Francesa, que se transformaram nos cidadãos da Era Napoleônica. Ser cidadão era a cara da classe média.

Não ser súdito, ser cidadão era ser senhor do voto, ser consumidor, ser contribuinte, ser senhor do destino da sociedade. Na verdade, Balzac queria contar mesmo era como a sociedade, que deixava de ser rural e virava citadina, lidava com os valores morais e os valores sociais da nova condição. Ele demonstrou a famosa hipocrisia da classe média. Séria e correta na aparência, imoral, ou até amoral, quando a penumbra caia!

Neste domingo, faltando 14 dias para as eleições de segundo turno, o “Estadão” numa série de reportagens, “Estadão Analisa”, divulga a pesquisa feita pela consultoria Plano CDE, especialista em classes populares. 

O texto, para assinantes, chamado “Classe C impulsiona voto à direita no País; segmento representa 100 milhões de brasileiros”, mostra como pensa a classe média, que surgiu em meados dos anos 2.000.

A onda de aumento da chamada classe média surgiu no mundo com a onda dos BRICS ( grupo Brasil, Rússia, Índia, África do sul e China) e marcou toda aquela década. Deu protagonismo à China e deixou todo mundo que é mundo com mais dúvidas que certezas.

O estudo revela que essa classe C não acredita que o Estado pode resolver sua vida, uma profunda desconfiança com o Congresso, os partidos e o Judiciário, assim como a defesa da liberdade para se fazer sozinho além do fato de que a religião virou, mais que isso, se consolidou como algo fundamental na coesão familiar. O estudo mostra que a maioria dessa Classe C está no Sudeste, não é predominante negra, desconfia que a politica de quotas cria mais dificuldades para eles e não entendem o feminismo como política e a questão identitária, também.

É muita farinha para o nosso caminhão, dirão alguns, ou muito! Dificilmente vamos ter um Honoré de Balzac em tempos de falência da cultura em nome da sobrevivência para nos contar esses anos, mas fica evidente que o crescimento de Bolsonaro e da extrema-direita, especialmente na representação parlamentar, se explicam muito com isso que está sendo revelado na pesquisa da Plano CDE. 

No texto do "Estadão" é revelado que a Fundação Perseu Abramo, a mais importante instituição pensante de um partido político, no caso o Partido dos Trabalhadores, já vinha tentando entender essa Classe C, que é a tal nova classe média tão falada no passado, desde os eventos de 2013. A verdade é que a esquerda arrogante avalia que as camadas populares tem que aceitar os valores universais como irretorquíveis. Enfim, se são conquistas da sociedade devem ser partilhados por todos. Arrogância pura.

A sociedade se move, assim como a história, dando pequenos saltos. Temos que entender como eles são dados. O bolsonarismo é muito maior que Bolsonaro.

As pessoas dessa “classe média”, mais que adotarem valores clássicos da classe média, adotaram valores mistos e ao mesmo tempo contraditórios. Eles acreditam que os votos deles podem mudar as coisas, mas não acreditam que o Estado pago por eles possa mudar suas vidas. Isso é muito sério.

Se Lula vencer, junto com muito mais gente que seu PT, tem que mostrar que o Estado pode mudar a vida deles, de todos, para melhor. Vai conseguir? Se Bolsonaro vencer, o que se vai se colocar no lugar vai agradar o resto do país? Não me venha com perguntas difíceis!

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O dilema da Classe C / FOTO: CNN Brasil


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