Devastação silenciosa: Piauí perde R$ 12 bilhões em desastres naturais nos últimos 10 anos
O cenário desolador se materializa em 2.412 decretos de emergência publicados por municípios piauienses pela seca implacável
- segunda-feira, 26 de maio de 2025
- Mateus Dias
Entre 2013 e 2024, o Piauí enfrentou uma devastação silenciosa que drenou mais de R$ 12 bilhões dos cofres públicos e privados. Esta cifra astronômica, revelada por um minucioso estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), esconde histórias de sofrimento que vão além do aspecto financeiro - 12 vidas foram ceifadas em meio ao caos dos elementos naturais.
O cenário desolador se materializa em 2.412 decretos de emergência publicados por municípios piauienses, todos consequência da seca implacável e estiagens severas que castigaram o território. Enquanto isso, as chuvas torrenciais, embora menos frequentes, provocaram 112 declarações oficiais de emergência, deixando um rastro de destruição por onde passaram.
POPULAÇÃO DESABRIGADA: O DRAMA INVISÍVEL DOS PIAUIENSES
O impacto humano destes desastres revela-se ainda mais perturbador quando analisamos os deslocamentos forçados. Mais de 13 mil piauienses perderam completamente seus lares, enquanto outros 58.558 foram obrigados a abandonar temporariamente suas residências.
No total, mais de 7 milhões de pessoas sofreram com os efeitos devastadores das catástrofes naturais - um número que supera duas vezes a população total do estado. Isso significa que, estatisticamente, cada habitante do Piauí foi afetado por mais de dois desastres durante este período, evidenciando a recorrência alarmante destes eventos.
PREJUÍZOS BILIONÁRIOS: QUEM PAGA A CONTA?
A distribuição dos prejuízos revela uma realidade cruel: a maior parte do fardo financeiro recaiu sobre os ombros da população. Do montante total, R$ 6 bilhões representam perdas privadas, enquanto o poder público amargou um prejuízo de R$ 854 milhões. O setor habitacional, pilar fundamental da segurança familiar, registrou perdas que ultrapassam R$ 945 milhões.
PANORAMA NACIONAL: BRASIL AFUNDA EM CATÁSTROFES
O cenário piauiense reflete uma tendência nacional alarmante. O "Panorama dos Desastres no Brasil – 2013 a 2024", elaborado pela CNM, expõe um crescimento vertiginoso nos prejuízos causados por desastres naturais em todo território brasileiro - de R$ 8,5 bilhões em 2013 para impressionantes R$ 732,2 bilhões em 2024.
Em uma década, foram registrados 70.361 decretos de emergência ou estado de calamidade, distribuídos por 5.279 municípios brasileiros. Isso representa uma média de 13 ocorrências por prefeitura, evidenciando a vulnerabilidade crônica das cidades brasileiras frente aos eventos climáticos extremos.
O levantamento indica que mais de 473,2 milhões de brasileiros sofreram algum tipo de transtorno relacionado a desastres naturais. Considerando a população total de 2023, é como se cada cidadão brasileiro tivesse sido afetado mais de duas vezes durante o período analisado.
SETORES DEVASTADOS: AGRICULTURA E PECUÁRIA LIDERAM PERDAS
O estudo da CNM detalha ainda o impacto devastador dos desastres em setores vitais da economia. A agricultura e a pecuária foram as mais castigadas, acumulando perdas de R$ 325,6 bilhões e R$ 94,4 bilhões, respectivamente - juntas, representam 57,4% do prejuízo total de R$ 732,2 bilhões.
A infraestrutura pública também sofreu golpes severos: R$ 86 bilhões em instalações de saúde; R$ 61,2 bilhões no abastecimento de água potável; R$ 43,4 bilhões em habitação; R$ 42,4 bilhões em obras de infraestrutura; R$ 23,3 bilhões no sistema de transporte; e R$ 9,5 bilhões na indústria.
PROMESSAS VAZIAS: GOVERNO FEDERAL REPASSA MENOS DE 40% DO PROMETIDO
Apesar da magnitude dos danos, o apoio federal ficou muito aquém do necessário. O panorama revela que R$ 13,4 bilhões foram previstos para gestão de riscos e prevenção de desastres no período analisado, mas menos de 40% dos valores autorizados foram efetivamente pagos.
"O governo federal só repassou R$ 5,3 bilhões aos Municípios para ações de proteção e defesa civil, o que representa somente 39,8% do prometido. Não adianta fazer um inventário, ir atrás do dinheiro, porque não vem nada, é zero. Dos decretos de situação de anormalidade, só 48% dos Municípios preencheram os danos causados e mesmo assim de forma muito elementar, porque os prefeitos não acreditam mais no governo federal", afirma Paulo Ziulkoski, presidente da CNM.
Foram 2.412 decretos de emergência pela seca implacável / FOTO: Reprodução
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